sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

ANO NOVO?


Depois de amanhã é um novo ano.
Ela olha em volta e não vê diferença.
Olha-se no espelho e não percebe sinais de mudança próxima.
Volta seu olhar para dentro de si
e percebe que ali não mora mais aquela menina
que achava ser dona do tempo.
Em que momento isso se deu?
Provavelmente, não foi num reveillon,
nem no dia do aniversário.
Provavelmente,  nunca saberá.
O fato é que o tempo a dominou
e lá está ela a esperar a mudança de um ano
que se dá apenas num calendário dependurado na parede.
Porque a vida é um trilho para o infinito.
E a gente vai...a gente vai... a gente vai...

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

MENSAGEM DE FINAL DE ANO



No balanço das horas, todos os anos, nessa época, gosto de perceber que tive muito mais alegrias que tristezas; que os sentimentos que dominaram meu coração form o amore a amizade; que não existem vitórias ou derrotas, mas um amadurecimento constante que me faz lidar com as mesmas situações de formas diversas, o que faz toda a diferença...

Feliz Natal, meus amigos! 
E continuemos nossos dias com firmeza, alegria, dúvidas e convicções, com muito carinho, com amor, porque é isso que faz a gente ser feliz!
Um 2012 estupendo para todos nós!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

"Tanto eu queria" poema de Maria Emilia Algebaile para desenho de Fernanda Franco no Caneta, Lente e Pincel


Tanto Eu Queria

Tanto eu queria contar com alguém
para chorar comigo um pouco,
ou que ficasse calado,
sentado, me vendo chorar como um louco;
alguém de quem a respiração
saísse no compasso do meu choro,
alguém de quem
a lágrima corresse livre
pela minha face também,
alguém por quem
eu jamais choraria,
alguém que, de tanta alegria,
me fizesse alegre também.
A mim, que vivo solto na vida;
A mim, que choro sem ninguém.

domingo, 27 de novembro de 2011

SÓ FALA QUEM PODE



Vou te dizer uma coisa pra você: eu hoje tô o bicho, rezistrei tudo o que eu queria falar numa folha de papel e estou indo pra comunidade dar uma entrevista pra uma TV que eu agora esqueci o nome, mas isso não importa, importa é que eu tô tirando onda com o sucesso das UPPs. Comunidade pacificada é comunidade feliz e todo mundo lucra com isso.
Comunidade agora virou moda, todo mundo quer tirar uma casquinha, todo mundo quer uma chance de aparecer e aparecer numa comunidade dá muito mais ibope, e eu não estou falando dos soldados do iBope, mas daquela empresa da Globo que faz pesquisa pra geral.
Agora, todo mundo quer subir o morro, é um tal de sociólogo, produtor cultural, cineasta, político, turista... a lista é grande e até eu resolvi pegar a minha parte. Não sei como meu nome foi parar no caderno daquela jornalista que acabou marcando uma entrevista comigo sobre as "interferências na comunidade". Não entendi direito esse tema, mas topei. Acho que foi de tanto eu pichar os muros...os caras agora resolveram que eu sou grafiteiro e até me dão spray pra eu fazer o que antes era proibido. Só rindo, muito mané grafite.
Fui logo esclarecendo que a entrevista tinha que ser lá em cima do morro e eu queria cópia da filmagem e foto, senão, não tinha acordo e que eu não ia falar de tóchico porque eu tenho uns cumpadi que eram do movimento e eles podiam não gostar dessa minha participação. Aí, ia sujar geral. Eles toparam.
No dia marcado, chegou a moça acompanhada de mais dois caras e eu já fiquei cabreiro, poxa, achei que seria só eu. Mas tudo bem, que não sou marrento. De cara, fiquei sabendo que um dos caras era um político. Eu nunca gostei de política, mas conheço alguma coisa porque tenho experiência, vivência, fiz a faculdade da vida, sabe como é? Mas daí a discutir política com o cara que é político, vai uma distância... Mas não sou de jogar a toalha, então fiquei lá pra conversar com o pessoal.
O outro cara era um sociólogo e eu também fiquei logo cabreiro porque esses caras sempre tem uma ONG por trás deles, igual aos políticos e eu não tinha ninguém por trás de mim, era eu comigo mesmo. No final das contas, a comunidade trabalhava pra caramba e as ONGs é que ficavam com os lucros e os prêmios. Tô fora.
Conversa vai, conversa vem, fui ficando camarada dos caras. Eles achavam uma graça danada em tudo que eu falava; pensei que eu estava fazendo bonito; quando o programa fosse ao ar, minha mãe ia ficar toda toda. Lembrei que não tinha mais gatonet e a gente ia ter que ver TV na casa de alguém conhecido, mas tudo bem.
A jornalista falou uns lesco-lesco e partiu pro assunto que interessava: a paz na comunidade, a pobreza e a riqueza, a remoção do povo e pra onde todos iriam...O sociólogo começou a falar que a política de irradiação da pobreza no Rio de Janeiro tinha vários matizes e eu concordei, pegueia deixa e comentei que, quando a luz irradia, ela provoca mesmo, acho que seis ou sete cores, todas matizadas, de cor eu entendo. Essas cores, continuei, os gays se inspiraram nelas pra fazer sua bandeira. Bom gosto. O outro me cortou e começou a falar sobre a questão da pobreza, disse que era um problema antigo, falou das favelas do Rio, da época do Lacerda, no governo Jongo... nesse momento, ele olhou pra mim e perguntou “conhece o jongo, né?” Eu respondi que é claro que eu conheço o jongo, mas eu comecei a ficar meio bolado desde o dia que começaram a misturar dança com política. Os caras se entreolharam e me deixaram continuar. Eu expliquei que achava uma sacanagem um político que nem era do Rio fazer ligação do jongo com o nome dele, só podia ser pra ganhar voto.... Eles me perguntaram, todos juntos, de quem eu estava falando e eu disse: do Serra, é, falo do Jongo do Serrinha...

A jornalista me cortou e fez uma pergunta para o sociólogo e para o político. Ela queria saber de onde foi que eu tinha saído. O cara que filmava tudo desligou a câmera e o resto eu não vou contar.

 Imagem:http://juzinhasoli.wordpress.com/2009/12/02/em-boca-fechada-nao-entra-mosca/

sábado, 19 de novembro de 2011

O que acontece quando um monte de amigas se reencontra? Veja uma possibilidade em ELA CHEGOU DE SALTO ALTO


 
Ela chegou de salto alto, cheia de si e foi logo avisando: hoje eu estou danada, bota uma cerveja aqui! Há tempos as amigas não se encontravam, todas assim, morrendo de saudades mas nem tão cheias de novidades. Era bom reunir a turma, uma viagem no tempo. Quando juntas, todas se nivelavam em idade – a primeira infância.
Não era porque o motivo da reunião fosse os sessenta anos de uma delas, que elas iriam nivelar por cima. Nunquinha. Conforme a própria aniversariante falara, a maioria delas já tinha mais tempo passado do que futuro, então, de acordo com os astros, a fase que se anuncia é prenúncio do carpe diem mais doido da história.
Ela chegou de mini-saia, uma coisa que há muito nenhuma delas usava, exceto as duas mais novinhas que teimavam em se incluir no grupo e, diga-se de passagem, eram muito bem vindas. As outras trajavam roupas de acordo com a idade. As mais novinhas estavam de jeans, camiseta e juventude, não precisariam de maquiagem, cordões, pulseiras, óculos coloridos, roupas de grife, nada desses supérfluos que servem para disfarçar pneuzinhos, rugas, olheiras e chamar a atenção para outros pontos do corpo e do rosto.
Ela estava com uma blusa vermelha de cetim, sem mangas e com um monte de babados no pescoço. Fazia frio, mas ela frizava a todo momento: tô com um calor da porra, liga esse ar condicionado! Tá com defeito, o ar? Traz outra cerveja, mas veja se tem uma mais gelada! Logo, a aniversariante já comentava com todos: essa aí só pode ser a periguete da terceira idade, nunca sente frio....hahahaha
E a música começou. Um grupo de quatro rapazes que tocavam samba. Todas dançando, ê ô ê ô... e a periguete da terceira idade dava seu show particular, rebolava, ia até o chão, deixava tudo à mostra, paquerava os rapazes da banda, que morriam de rir, nessa altura do campeonato. Uma das amigas comentou que os rapazes eram muito novinhos, no que a periguete da terceira idade, revoltadíssima, soltou a frase: de velha já chega eu, só quero agora é carne nova...mas a noite não era para isso, os prazeres da carne não foram acionados.
Era para ser uma noite comemorativa. E foi.
Conforme o tempo passava e as cervejas eram consumidas, começaram a pedir músicas mais antigas, sambas enredos de carnavais passados e felizes e dançavam sem parar. Lá pelas tantas, a aniversariante queria terminar a festa, cantar os parabéns e ir embora. Ela sempre dormira cedo e, nas festas alheias, era sempre a primeira e sentir sono. Mas as amigas não concordavam com a idéia. Ela era a anfitriã e, como tal, seria a última a deixar o recinto. A periguete declarou: só saio de manhã. As outras se entreolharam preocupadas e resolveram optar por um meio termo. Vamos cantar os parabéns e depois a gente vê como fica.
Foi aí que tiveram a idéia de não deixar a aniversariante esmorecer e, uma após a outra, tiravam a aniversariante para dançar. Ela estava com os pés doendo e resolveu tirar os sapatos, trocando-os por uma sapatilha rasteirinha. Foi-se o glamour, para que a alegria pudesse predominar.
As outras dançavam, bebiam e se revezavam no banheiro, porque cerveja...sabe como é, né?
O marido de uma das amigas, que estava sentado do lado de fora do barzinho, com a desculpa de que era fumante, resolveu ir embora. Então, deu-se o embate.  A esposa disse que JAMAIS DEIXARIA A AMIGA SOZINHA, ELA, QUE SEMPRE ESTIVERA AO SEU LADO NOS MOMENTOS MAIS DIFÍCEIS....foi quase um discurso e o marido cedeu, quase chorando de emoção, pois não sabia que a esposa falava tão bonito!
E mais cerveja e música, muita música. Foi aí que uma das amigas resolveu mostrar seus dotes de cantora, sacou o microfone das mãos do cantor e quase que não largou mais. Cantava qualquer coisa, desafinava pra caramba, mas nada disso importava, o importante é que exercia sua liberdade de cantar e as amigas batiam palmas, pediam bis e riam todas juntas.
Aí veio o parabéns e quase ninguém comeu o bolo porque, estando todas de dieta, optaram pela cerveja e o bolo ficou em cima da mesa. Uma das amigas fez o favor de guardá-lo. Teve discurso, emoção, uhu! E todas estavam felizes por estarem compartilhando aquele momento. A aniversariante se gabava: agora estou sexy....sexagenária!!! Como é bom fazer piada sobre nós mesmas!
Mas aí, o cansaço já estava tomando conta de todas (da maioria, pelo menos). Uma delas lembrou que o conjunto ia parar de tocar e mais uma outra falou que era melhor pagarem a conta. Todas concordavam, menos a periguete da terceira idade, que perdia a pose, mas não descia do salto, para risadagem geral.
Até onde me lembro, entrei num táxi e cheguei em casa, tendo deixado outras amigas antes. Não sei se me despedi de todo mundo. Minha amnésia alcoólica é f......Mas jamais esquecerei esta noite e o nosso reencontro. Ao nos reencontrarmos, nos reencontramos também com nossas melhores fases e com as graças que cada uma tem; nos reencontramos com o tempo e com as peças que ele nos prega. E provamos, para os fofoqueiros de plantão, que mulher é amiga de mulher; que mulher sabe se divertir e que mulher, quando se junta, nem sempre fala de criança, de casa e de homem, porque tem outras coisas muito interessantes para se fazer na vida.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

QUASE LUGAR COMUM


Quando lhe vi pela primeira vez
imaginei
o jeito como você beijava.
E quando vi suas mãos
tão limpas e grandes,
as unhas cortadas
e uma aliança denunciando a posse,
imaginei seus dedos
me cortando o ventre
e investigando os desvãos do prazer.
Cheguei a sentir sua fúria
me apertando os ossos e me deixando
molhada e escorregadia.
Pensei em como seria percorrer seu corpo
de linhas bem traçadas
inventando novos caminhos
que só eu seria capaz de percorrer.

Mas, como de resto,
o tempo rolou
e rolaram junto
as pedras do meu caminho.
Rolou meu corpo
em outras camas e espinhos
e você ficou
no rol dos sonhos proibidos.
E eu até me esqueci
dos planos que fiz
dos desejos que tive
da vontade de morder sua boca
e beijar seus olhos
por trás dos óculos escuros.
Como pude cometer este delito?
Quantas voltas dá o coração?
É fato que sempre volta
aos antigos portos
onde não teve condição de aportar?

E, ainda hoje,
quando vejo você bebendo sem jeito,
dançando fora do ritmo,
tentando se comunicar
sem ter necessariamente intimidade com as palavras,
como se fosse um menino
aprendendo a falar,
me dá uma vontade esquisita
de me enroscar em suas pernas malditas
e delirar.
De mandar tudo à merda
e romper de vez os muros.
De acabar, enfim, com essa agonia
e nos lambuzar por inteiro
de leite, saliva, cabelos e urros.
Mas eu não sou para você
e você não é para ninguém.
Fazemos parte de uma legião de solitários
que sofrem por medo de ir além.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

NAQUELES TEMPOS

NAQUELES TEMPOS



Naqueles tempos ele acordava
e saudava a terra, o ar e a água
com uma reverência que deixava bem clara
toda sua submissão aos três elementos,
não fosse o fogo que ardia em seus subterrâneos
e que se impunha como o subsídio necessário à vida,
poderiam pensar se tratar de uma unidade perfeita.

Naqueles tempos, ele contava
que os animais escreviam e falavam
e que ainda fariam isso,
por muitos e muitos séculos,
mas a capacidade
de leitura e entendimento dos homens
seria escassa demais,
o que tornaria certos entendimentos
totalmente impossíveis de acontecerem.

Naqueles tempos, ele amava a mulher
e construíra com ela um corpo
que funcionava perfeitamente feliz,
numa união tão próspera que gerara
filhos feitos de amor,
mas um dia tal capacidade se esgotaria
pelo alargamento insensato do egoísmo
desnecessário à edificação da felicidade.

Naqueles tempos
ele não reagia negativamente
às coisas imperfeitas da vida,
porque todos se lambuzavam de leite e mel,
porque as mulheres trançavam seus cabelos
e os homens lhes colocavam flores nas tranças,
porque as crianças acordavam com o sol
e adormeciam aos primeiros clarões da lua
completamente plenos de alegria.

Naqueles tempos sua existência era possível
pois os rios, as árvores, cores, ar e criaturas
eram uma coisa só,
amalgamados que estavam por um sentimento que já se foi,
uma emoção que nunca mais se sentirá,
que acabou junto com as horas e os minutos 
bem-aventurados daqueles tempos.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Caneta, Lente e Pincel: Liberdade Distante

Caneta, Lente e Pincel: Liberdade Distante:


Foto: Paulo de Resende
                                                                                            Texto: Maria Emilia Algebaile

Asas suaves
Pelos no corpo
Caminho torto
Queda livre no ar.
Baque soturno
Pecado diurno
Sou feito um gatuno
Para te furtar.


Liberdade distante
Voo raro e rasante
Fuga desabalada
Rasgando o ar.
Pouso forçado
Tapa na cara
Ferrão afiado
Para te ferrar.


Beijo final
Face do mal
Caminho de terra
Não vou trilhar.
Pega o spray
Eu te esperei
Mas não fico aqui
Para te ver passar.

Caminho atrevido
Zumbido no ouvido
Vinte e quatro horas
Para te azucrinar.
Livre do asco
Serás meu carrasco
Bate com força
Me tira do ar.

Sou fera vencida
De mal com a vida
Sua mão atrevida
Não me fez parar.
Surto no campo
Seque seu pranto
Não freie o encanto
De me assassinar.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Mais um trecho do "Livro das Mães"

A
BRAÇO – Quando minhas filhas eram pequenininhas, várias vezes por dia havia choro de criança lá em casa. Às vezes, era uma dor, às vezes, uma fralda molhada, outras vezes era só manha mesmo, mas tinha uns choros que eu não conseguia identificar. E vê-las vermelhinhas, com lagriminhas nos olhos, chorando pra caramba – e vamos combinar que choro de criança não é nada agradável e que às vezes as três choravam ao mesmo tempo – sinceramente, eu ficava apavorada. Muitas vezes eu chorei também. Chorei por me achar incapaz de impedir o choro, chorei por me sentir uma merda de mãe que não consegue identificar o motivo pelo qual chora sua filha, chorei porque simplesmente não sabia o que fazer. E muitas vezes, eu as abraçava e ficava lá, agarradinha, tentando entender o que acontecia. E eu acho que o nosso abraço era o antídoto contra o choro. Nosso carinho, não sei como nem porquê, fazia cessar o choro. Essa experiência merece estar no Livro das Mães. Ela vale pra tudo. Quando você não souber o que fazer para resolver um problema, acolha, abrace, fique agarradinha estudando, olhando e percebendo, respirando junto...a dificuldade pode não cessar logo, mas o seu gesto vai trazer a tranqüilidade necessária à solução das coisas.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Ajudem-me a completar a frase: "A GENTE VIRA CRIANÇA QUANDO......."

- ...reencontra os amigos da infância;
- ...passa uma tarde com os irmãos e os primos;
- ...come sorvete e se lambuza;
- ...acredita que o bicho-papão, dessa vez, vai pegar;
- ...toma banho de chuva e gosta;
- ...come brigadeiro;
- ...procura o colo da mãe ou do pai;
- ...vê os netos brincando;
- ...ri alto das coisas mais bobas;
- ...acredita em tudo o que falam para nós;
- ...briga com o melhor amigo por causa de bobagem;
- ...faz as pazes com o melhor amigo e não guarda raiva;
- .....

domingo, 2 de outubro de 2011

SEMENTE




Sinto um verde quente e escuro
Nos abismos da floresta
Útero que protege
Novos verdes delirantes
da natureza em festa

O verde se alastra
Rouba a cena
Dá sentido
A uma vida tão pequena
Incapaz de ousar.

Noutros tempos, noutras folhas,
A chuva batia afoita
E o canto que se ouvia
Era cantiga de ninar.
Mas nos tempos de agora
A chuva que bate lá fora
É como criança que chora
Com fome, sede e penar.

Meu olhar vazio e pouco
Se envolve num ballet louco
Perdido nos verdes barulhos
De um leve ressonar.
Então ergo as mãos ao alto
Tentando evitar um salto
Mas o destino incauto
Me empurra e faz desabar.

Caio emprenhada no solo
E abraçada às folhas mortas
Luto por nossas vidas
Prestes a germinar.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A PROPAGANDA É A ALMA DO NEGÓCIO

 
Nunca gostei de ser bonita. Desde pequena era aquele inferno, todo mundo me olhava e ria, me olhava e dizia que linda ela é, é uma princesa, mas que olhos e tudo aquilo me deixava numa posição de alto de pedestal, distante das pessoas comuns, que era o que sempre sonhei ser: uma pessoa comum, dessas que não fazem ginástica, bebem cerveja, pegam sol, amarram o cabelo com uma xuxinha de qualquer cor, colocam umas havaianas nos pés e vão ali na padaria comprar pão.
Mas não. Eu nunca consegui ser assim, nunca me deixaram ser comum. Eu sou bonita e pago um preço alto pra caramba por isso. É uma maldição. Todo homem quer me comer, me passar a mão, me apertar. Toda mulher quer distância de mim, quer que eu me dê mal, quer que eu abra a boca para dizer besteiras...e ambos – homens e mulheres – não querem me escutar, cada um com seus motivos para os quais Freud deve ter uma explicação.
Pois bem, mesmo contra minha vontade, acabei me acostumando, porque é melhor ser bonita do que ser feia, uma experiência que eu gostaria de viver, mas só por um dia...talvez algumas horas...só pra ver como seria, porque deve ser um horror se olhar no espelho e ver uma cara que você não reconheceria como sua, se um dia lhe fosse dada essa opção.
É bom lavar o cabelo e sair ao vento, é bom acordar sem ter a cara inchada, é bom ir às festas sem precisar de maquiagem, comprar qualquer tipo de roupa porque tudo cai bem...é muito bom. E eu me apeguei a esse lado, porque só sendo muito burra pra não gostar de coisas boas. Mas é só um apego, um acostumar-se com, não constitui um gosto, uma vontade nem uma necessidade.
Eu nunca gostei de ser bonita, mas é bom sê-lo. Deve ser a mesma coisa que sentem os muito ricos; gostariam de ser pobres de vez em quando só para fazerem coisas que os ricos não fazem (porque não querem), como beber na birosca, trabalhar de sapato baixo, quer dizer, trabalhar de um modo geral, porque rico não trabalha, só usufrui...Então, sociologicamente falando, de uma forma politicamente correta, todo rico teria uma culpa (ah, inferno!), sei lá de quê, e gostaria de provar o gostinho de ser pobre pra ver se introjetaria valores mais humanos, pra ver se adquiriria um sentimento de pertencimento e aceitação de um grupo  diferente do seu, pra ver se...ah, vocês sabem...tudo no futuro do pretérito.
Pois ser bonito é parecido. Todo mundo elogia, mas ninguém quer muito por perto. A pessoa bonita, principalmente a mulher bonita, é um perigo. Porque o homem bonito não é visto como perigoso, logo o rotulam de bicha e pronto. É uma saída. Mas mulher bonita está fodida. Não tem saída, não tem escapatória nem perdão. E tem que aturar as outras mulheres, feias e bonitas, olhando de cara feia, desejando azar, desejando a morte e os homens, feios e bonitos, desejando apalpar seu corpo todo, comer você todinha e, pior, mostrar pra todo mundo. É, porque só comer não basta, tem que mostrar pros outros que estão comendo uma mulher bonita. Como se eu fosse um caviar, que nem todo mundo pode comprar, nem todo mundo gosta do gosto mas todo afirma que quer comer e todo mundo alardeia quando come porque dá status. Que saco!
Eu poderia ficar aqui falando, falando e falando das desvantagens de ser bonita, mas você que está me escutando, ser for bonita vai me entender, se for feia, vai me odiar e se for homem já deve estar procurando meu telefone, ou email, já deve estar querendo saber onde eu fico na praia e eu não direi que é na Reserva de jeito nenhum......

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

"São quentes as flores do meu jardim......"


"São quentes as flores do meu jardim
Vontade de mordê-las, apertá-las
Até que o cheiro se desprenda de mim
Até que sobrem só pétalas"



segunda-feira, 19 de setembro de 2011

EXPIAÇÃO

Tento me embriagar
com um copo de culpas.
Bebo com sofreguidão
e retalho a cama nua
fugindo do vazio das janelas
abertas eternamente.

Enfrento meu olhar juiz
condenando as coisas que não fiz
sem coragem nem credo
que me ajudem a enfrentar
a farta sujeira
do meu mundo encantado.

Há tempos ouso procurar
por onde entra essa luz
que pouco ilumina o meu quarto doente,
sem me dar conta do momento fatal
que emporcalha a confusão
das minhas horas.

Meu corpo goteja
desmanchando-se pelo chão
sem noção de que o copo está vazio.
A festa já acabou
e todos estão mortos.
A prova são seus corpos mutilados
e a culpa é minha.
Que venham os algozes
pois já estou condenada
e não ouço as vozes
dos que não acreditam em mim.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Trecho do "Livro das Mães"

Um dia acordei e me dei conta de como dói ser mãe! É como andar em pedra dura e ter medo de que ela se parta de uma hora para outra; é ter todas as certezas do mundo, duvidando apenas da nossa própria existência no momento certo em que o filho precisar de nós; é não dormir se o filho está sofrendo ou simplesmente se acabando em uma balada na noite. Estranhamente, tudo muda a partir do instante em que os filhos nascem. Não falo do corpo, que este volta para o lugar mais cedo ou mais tarde, ou nem tanto. Mas isso passa a não ser tão importante. Falo de um certo brilho no olhar, uma coisa divina que faz parte da fisionomia de todas as mães. Quem já teve a oportunidade de observar como uma mãe olha para seu filho, saberá do que falo. O que vai naquele olhar é como um raio X da alma do filho. Pode-se não saber exatamente o que está acontecendo, mas temos a exata dimensão de quando algo não vai bem. Mas não é só isso. Falo também de um medo que passa a percorrer o pensamento. Medo de não dar conta do recado, medo de não educar direito, medo de amar demais e sufocar, medo de amar de menos e deixar o filho sem colo, medo de perde-lo, medo de que fique triste...mas, acima de tudo, medo de que o filho não seja feliz. Deve ser porque as mães vêem seus filhos como continuidade de sua vida, a sua parte melhor, desenvolvida, com novas chances, novos caminhos a percorrer, uma parte que pode dar mais certo. Talvez por isso, os filhos são completos, corretos, lindos...nos sonhos de suas mães. Mas mesmo me dando conta disso tudo, afirmo, com certeza absoluta e o olhar mais intenso do mundo que ter filhos é a melhor coisa da vida. Ter filhos e vê-los caminhar independentes; ter filhos e ouvi-los falar com convicção sobre suas opções de vida; ter filhos e provar um sentimento maior que amor, um sentimento que é a própria tecitura da vida, num movimento de mão dupla e sempre na dose igual para cada um dos filhos que se possa ter. Um, dois, dez filhos, não importa. Porque não se trata de quantidade. Uma relação assim tão forte não pode ser conceituada nem medida. Ela dói e refresca ao mesmo tempo. Quem participa deste maravilhoso jogo sabe que vence quem percebe e aproveita cada detalhe vivido.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

NÃO BEBO MAIS COM CAMELOS


Não sei como algumas coisas acontecem, mas acontecem só comigo. Saí feliz da vida pra beber uns chopps na praia e agora estou aqui nesse deserto com um camelo de duas cabeças me olhando. Não me lembro o nome dele, mas o cara é legal, boêmio como eu e artista. Aliás, todo artista devia mesmo ter duas cabeças, uma para criar, pensar e a outra pra sentir dor e passar pelas ressacas do dia seguinte, porque, se tem uma coisa que não combina é a vida real com a vida boêmia. Quando penso nisso, me dá até uma comichão, um contorcimento mental, porque ser boêmio é bom demais, não é, camelo? Ele me contou que a outra cabeça, às vezes, quer submetê-lo a certas coisas chatas como atravessar deserto, ir ao zoológico, mas que ele gosta mesmo é de ser artista. Ele é um camelo voador, e viaja na maionese, esse cara, mas é um cara legal. Só está é se amarrando pra me levar de volta pra casa, pois eu prefiro que ele me leve na garupa dele, afinal, eu moro no Rio e esse deserto fica longe pra cacete, mas a outra cabeça dele se mete na conversa e teima em me dizer pra eu levantar, sacudir a areia da praia, atravessar a rua e voltar pra casa. Não bebo mais com camelos!      

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A MULHER QUE CANTA

"Perdeu-se o dia em que teve início a cantoria. No início, dizem, todos gostavam. Era uma voz tímida, suave. Quase um lamento. Talvez fosse época da bossa nova e talvez tivesse dado a partida quando fazia suas caminhadas pela orla de Copacabana, inspirada pela tardinha que cai. Talvez tivesse começado a cantar em substituição às diversas lágrimas que vinha derramando após uma paixão reprimida. Talvez tivesse feito um pacto com o demônio ......................"

CONHEÇA ESTA E OUTRAS HISTÓRIAS NO LIVRO: "MULHERES QUE CORREM COM AS BARATAS", a venda pelo site www.editoratorre.com.br

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

AJUDE O LOCO A ESCAPAR DA PANELA

Há pouco tempo, lá no sítio, nasceram uns pintinhos lindos, como todos os pintinhos sabem ser. E foram crescendo, perdendo a penugem amarelinha e definindo suas cores. Logo, logo se destacava um franguinho branco de pernas bem compridas, meio marrentinho, que andava meio desconcertado por conta da altura e eu coloquei nele o nome de Loco Abreu em homenagem ao craque alvi-negro. Loco Abreu cresceu fazendo jus ao nome e hoje é o galo mais bonito do mosso galinheiro. Acontece que outros frangos também cresceram e viraram galos e, como todos sabemos, as nossas poucas galinhas não suportam tantos galos. As pobrezinhas fizeram uma passeata, uma manifestação, ameaçaram fazer greve se não diminuíssemos a quantidade de galos no galinheiro. Aí, começou o embate. Adorando um coq au vin, meu marido determinou a execução de uns galos. Eu me desesperei e decretei que poderia matar todos, menos o meu galo, o Loco Abreu. Assim tem sido. Quando o Botafogo perde ou empata, lá vão alguns galos para a panela. Se chegar o final do campeonato e formos campeões, a vida do Loco estará poupada para sempre, pelo menos não irá para a panela, morrerá de morte natural. Enquanto isso não acontece, torço para o Botafogo ganhar os jogos. Meu Loco Abreu, alheio a tudo, está resistindo bravamente. Conto com a torcida do Botafogo para que a vida do meu lindo galo seja poupada. Vamos ganhar! FOOOOOOOGO!

JORNAL O DIA - 31/08/2011

 
  

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

ALUGA-SE POR TEMPORADA


Tão bom ter um ouvido amigo disponível para nossos sonhos, alegrias e tristezas. Às vezes, nem precisa ser amigo, basta ser neutro e cumprir sua sina: escutar. Porque tem hora que a gente não precisa ser compreendido, não deseja ser apoiado ou contradito, basta que falemos. E como precisamos disso! Em contrapartida, cada vez mais precisamos falar e nos esquecemos de ouvir. Ninguém tem tempo para ouvir ninguém, estamos na era da manifestação. Todo mundo tem alguma coisa para dizer, para contradizer, para expor. Todo mundo, inclusive eu, aqui e agora, por exemplo, quer falar o que julga ser a descoberta do mundo e da roda. Mas poucos de nós se dispõe a ouvir, a maioria de nós até ameaça deixar o outro falar, mas na metade da frase já está pensando em outra coisa. O tempo é escasso, a necessidade de fazer várias coisas importantes, ou nem tanto, nos impõe um ritmo doido que interdita determinados comportamentos e muitos sentimentos. Por isso, não acho distante o dia em que veremos o anúncio de aluguel de orelhas por temporada, porque nem mesmo uma orelha de aluguel vai aguentar um contrato de longo prazo. Há de chegar o dia em que alugaremos espaços virtuais nos parlatórios sem assistência. A máxima "fala que eu te escuto" estará de vez ultrapassada. Falaremos para ninguém nos ouvir. Está próximo o dia. Falaremos por falar, numa compulsão louca, até que seja atrofiado de vez o aparelho auditivo por absoluta falta de necessidade e de uso. Enquanto isso não acontece, vamos aproveitar e botar em dia aqueles assuntos à toa, vamos conversar sério com as pessoas que ainda valorizam o intercâmbio de idéias e ideais, vamos botar a boca no mundo, galera!

domingo, 21 de agosto de 2011

FESTIVAL DA CACHAÇA - PARATY - Valorizando o que é nosso!

São quatro dias de exposição e degustação das cachaças produzidas na cidade cujo nome é sinônimo de cachaça; Paraty. À noite, diversas bandas embalam os apreciadores da branquinha, genuína bebida brasileira que deveria ser mais valorizada por nosso povo. Estrangeiro adora, mas ainda resta um grande preconceito no nosso próprio país, associando-se a bebida a classes sociais e econômicas mais baixas, demonstrando, igualmente, a discriminação contra uma cultura popular. É aquele velho (pré)conceito que coloca os consumidores de champagne e wisky num patamar socialmente superior aos apreciadores da cachaça. Está na hora disso acabar. Apreciar uma bebida não tem relação direta com os males que qualquer bebida alcoólica possa causar.
Há algum tempo, os produtores e amantes da cachaça vêm lutando para que seja instiuído o selo de Indicação de Procedência ou Indicação Geográfica - IG - a exemplo do que já ocorre na Europa, com grande êxito.
A Indicação Geográfica - IG - constitui um instituto jurídico, previsto na nossa Lei da Propriedade Industrial, de 1996, que visa reconhecer e proteger o nome geográfico de pais, região ou localidade, que identifique algum produto ou serviço típico. O Registro é justíssimo, resultado de uma atividade econômica primacial e emblemática na vida de um dos mais belos lugares do mundo, Paraty, Município Monumento Nacional, dono do mais harmonioso conjunto arquitetônico colonial do País. O Registro vem consagrar mais de quatrocentos anos de história de uma bebida que antes de se chamar "cachaça" foi chamada de "paraty". A Indicação de Procedência da Cachaça de Paraty irá distingui-la de outras cachaças, será, mais que uma impressão digital, uma carteira de identidade para o produto, proclamando a sua origem, o lugar onde ela é feita. A Cachaça de Paraty estará protegida das fraudes e aumentará o seu valor agregado. A ela será conferido um diferencial de mercado, em função das características e da cultura própria do seu local de origem, preservando-lhe as suas belíssimas particularidades. Irá, também, incentivar novos investimentos, elevando o padrão tecnológico dos engenhos, multiplicando os empregos e favorecendo o turismo. 
Eu apóio!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

NA PORTA DA ESCOLA

Na porta da escola

Mané, Cuzão e FDP estavam com a macaca. Eu não sei o nome correto deles, mas era assim que se tratavam os meninos que saíram da escola se empurrando, dando chutes uns nos outros e xingando um monte de palavrões.
O portão da escola despejava um monte de crianças para o mundo  e a maioria delas se dirigia ao ponto de ônibus mais próximo. O trio era o mais inflamado e as pessoas que aguardavam no ponto começaram a se entreolhar incomodados. Os garotos não se importavam com ninguém, zoavam todo mundo.
A coisa estava mais ou menos sob controle (deles) mas, de repente, um deles, acho que foi o FDP, que era bem maior que os demais, deu um chute na barriga do Mané. Mané rolou no chão com dor mas ninguém foi em seu socorro, nem os colegas da escola nem nós, que estávamos no ponto do ônibs. Apenas olhávamos.
Eu, lá no íntimo, fiquei com medo do FDP e pensei que, se me dirigisse a ele, ele poderia me dar um socão na boca e quebrar meus dentes. Fiquei quieta, impotente, enquanto Mané se recuperava. Fiquei com pena do garoto.
Foi então que o Cuzão falou para ele, tá vendo, Mané, tu provocou o cara a agora tomou! Hahahaha! Se fudeu! Mané se limitou a olhá-lo, levantou-se desajeitadamente e deu-lhe um cascudo. Cuzão, tu é um Cuzão, porque não me defendeu daquele FDP?
Nessas alturas, FDP se achava no pedestal, todo mundo olhava para ele de baixo para cima e ele era o cara! O ônibus chegou e ele declarou: não quero ninguém comigo, vou entrar sozinho. E foi. Ninguém sequer pensou em entrar no ônibus também, nem nós, que estávamos aguardando o coletivo.
O restante da garotada foi embora no ônibus seguinte e eu fiquei calada pensando nos garotos. Como deve ser complicado para a professora dar aula numa turma cheia de Manés, FDP e Cuzões! E em casa, como seria? Teriam mãe,pai, família? Como seriam aqueles meninos na intimidade? Violentos e cruéis como FDP; submissos e tímidos,  como Mané; covardes, como Cuzão? Sofridos e sós como os três?
Como as famílias tem se ocupado de seus filhos? Correndo o risco de ser chamada de arcaica, deslocada e outros adjetivos igualmente redutores, teimo em afirmar que as famílias precisam ser socorridas; há que se desenvolver políticas públicas de apoio aos núcleos familiares para se começar a pensar em educação.
Educação começa antes da escola. A escola não dá conta, e penso nem ser sua função específica, de incutir nesses meninos valores, hábitos e atitudes  que eles deveriam trazer “de berço”, como se dizia antigamente.
A quem cabe a responsabilidade por esta geração de Manés, Cuzões e FDP que está se desenvolvendo por aí? A porta da escola precisa ser vista como ligação entre dois espaços e não como uma barreira. Devemos pensar sobre esta questão. 

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

SÓ NOS RESTA O DESVIO

As letras são tão poucas pra gente esrever e dizer o que deseja. Aí, o negócio é escrever um monte de textos, que vão se acumulando em um monte de livros, que, por sua vez, vão se juntar a mais um tantão de livros de outras pessoas com a mesma dificuldade nossa, porque a língua restringe a nossa liberdade de expressão e aprisiona nosso pensamento, condicionando-nos a dizer de determinada forma um conteúdo que é água escorrendo entre os dedos, lavando o rosto, se impregnando pelo solo poroso...
Eu penso 'sol' e tenho que escrever três letras ridiculamente sobre uma folha de papel ou apertando teclas do computador. Isso é absurdamente redutor da realidade 'sol', mas é o que eu posso fazer. Triste, né?
O que acaba por acontecer é a gente promover uma suruba de letras para buscar uma maneira de manifestar o que a gente quer. Foi Roland Barthes que disse ser a língua uma ditadura por nos impor um jeito de escrever e falar, um exercício de poder. Ele continuava seu pensamento afirmando que a literatura era a única forma de nos libertarmos dessa submissão; a literatura seria "esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução".
Assim, estaremos sempre num purgatório, pois só seríamos livres fora da linguagem, embora só possamos existir dentro dela.
Amigos,só nos resta o desvio!

MULHERES QUE CORREM COM AS BARATAS - Dia do lançamento

terça-feira, 9 de agosto de 2011

HOJE É O LANÇAMENTO DO LIVRO MULHERES QUE CORREM COM AS BARATAS

Quem são essas mulheres que correm com as baratas?
Venha descobrir, mergulhe no universo deste livro e perceba o que há de inquietante nesta resposta.

domingo, 7 de agosto de 2011

SERIAM PARENTES???




O primeiro vive junto à natureza, sempre vigilante na Praia de Caieiras, em Fernando de Noronha.
O outro nasceu em Montpellier, França e hoje habita minha sala de estar.
O elo de ligação entre eles, sou eu, mas reparem como se parecem...o nariz, os espinhos...
Ambos são criações humanas, mas criaturas distintas em universos tão distantes...

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

OBRAS LITERÁRIAS COM ACESSO GRÁTIS NA INTERNET

Uma bela biblioteca digital, desenvolvida em software livre, mas que está prestes a ser desativada por falta de acessos. Imaginem um lugar onde você pode gratuitamente:
·Ver as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci ;

· escutar músicas em MP3 de alta qualidade;
· Ler obras de Machado de Assis Ou a Divina Comédia;
· ter acesso às melhores historinhas infantis e vídeos da TV ESCOLA
· e muito mais...
O Ministério da Educação disponibiliza tudo isso,basta acessar o site: http://www.dominiopublico.gov.br/
Só de literatura portuguesa são 732 obras!
Estamos em vias de perder tudo isso, pois vão desativar o projeto por desuso, já que o número de acesso é muito pequeno. Vamos tentar reverter esta situação, divulgando e incentivando amigos, parentes e conhecidos, a utilizarem essa fantástica ferramenta de disseminação da cultura e do gosto pela leitura. 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Há 40anos...


O ano era 1971, o local era o Engenho Novo e minha sala ficava no terceiro andar, à esquerda, naquela janelinha de quina. Minha turma era a Turma B e ocupávamos a sala 38. Um bando de meninas e meninos se conheceram e conviveram por 4 anos neste que se tornou um colégio de sonhos para cada um de nós, tenho certeza.
Crescíamos e logo, logo, os rostinhos de criança foram cedendo lugar a semblantes mais complexos, olhares mais curiosos, e sorrisos mais maliciosos. Nossos corpos também ganharam altura e estrutura mais forte. E nossas cabeças e corações....desandaram de vez...rssss
Hoje, 40 anos depois, tivemos a grata satisfação de poder nos reencontrar novamente. No fundo do olhar de cada adulto cinquentão, não foi difícil identificar aquele jeito de sorrir, um modo especial de falar, um trejeito do corpo ou simplesmente um modo peculiar de falar as coisas.
O ano é 2011, cada um veio de um ponto diferente do mapa para o nosso mundinho interior de pré-adolescentes, momento da vida que jamais se esquece.
Ah, e o nome do colégio...só poderia ser o Colégio Pedro II.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

MAIS UM TRECHO DO LIVRO "MULHERES QUE CORREM COM AS BARATAS"

"As arquibancadas se enchiam de homens e mulheres de olhares secos e bocas tristes. Ficavam lá sentados nas arquibancadas, sonhando por tabela, os perdidos na vida, os zumbis e dançarinos sem música, aqueles a quem doía imaginar, aqueles a quem a vida encaixotou impedindo movimentos até mesmo interiores. A entrada de crianças era permitida, mas nunca fora registrada a presença de nenhuma delas, por pura desnecessidade."
Trecho do conto "A Contadora de Sonhos"

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

SINAIS

Cada doido com sua mania, já dizia minha avó. Aliás, vovó dizia muitas coisas interessantes e, às vezes, espantosas e premonitórias. E, como quem não puxa aos seus é monstro, acho que herdei alguma coisa disso também.
Lembro-me de um dia calmo, sol quente e ar abafado. Eram as férias de verão, que passávamos na casa de vó Maria. Ela, sentada na varanda de casa, depois do almoço, vaticinou: “vai acontecer alguma coisa hoje; tá tudo quieto, nem as árvores se mexem”. Pra ser sincera, não me lembro do que aconteceu, mas aquela previsão me espantou e até hoje, quando vejo a natureza quieta, lembro da vovó e penso no que pode acontecer.
Eu também criei meus sinais, talvez como forma de resgate da sabedoria familiar, aquele tipo de conhecimento que se constrói de geração em geração e que ninguém mais sabe dizer como começou. Lá no sítio, quando vejo um coelhinho, grito logo: “vem coisa boa aí”. Borboleta azul quer dizer que chegará uma boa notícia, assim como a primeira floração do manacá, com aquelas florezinhas roxas e brancas super perfumadas, são indício de casamento na família.
Esse é o lado bom dos presságios, o lado que eu gosto, porque prever coisa triste não é comigo não. Aliás, também não sei dizer o que acontece depois que vejo coelhinho, borboleta ou manacá florindo, mas isso não importa muito, o que me move e me deixa contente é a possibilidade de vir a acontecer uma coisa boa. Só isso já é suficiente para alegrar o dia.
Mas hoje cedo eu saí para o pilates e dei de cara com o caveirão. Não sei o que isso pode anunciar, mas o fato é que estou com a imagem na minha cabeça até agora. Parecia que o Darth Vader queria falar comigo e eu não quero papo com esse cara. Fiz pilates como ninguém, aplicadíssima, pensando em fortalecer meus músculos para o grande embate, caso o encontrasse novamente. Saí pronta pra enfrentar tudo, mas até agora, o dia se apresenta tranqüilo e, pra falar a verdade, agora observo que está tranqüilo demais...tá tudo quieto...nem as árvores se mexem...

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Mulheres que correm com as baratas é um livro de contos e crônicas que marca a estreia de Maria Emília Algebaile no cenário literário brasileiro. Os contos têm como foco as atividades cotidianas de mulheres que, encarnadas em diferentes papéis e confrontadas com diferentes momentos e situações de vida, revelam aspectos obscuros da condição feminina nos tempos atuais. Anti-heroínas, desgraçadamente comuns, as mulheres que povoam o universo quase subterrâneo exposto nestes contos são inusitadamente surpreendentes, seja pela capacidade de imersão e diluição na vida que lhes é reservada, seja pelas inesperadas respostas frente às situações terminais, seja pelo inquieto subsolo que o conjunto de suas múltiplas facetas denuncia.
Prefácio de Anazildo Vasconcelos da Silva 
Foto da capa: Magali Maciel Rios
150 páginas. Ed. Torre

segunda-feira, 25 de julho de 2011

RECORDAÇÕES DO LÍBANO


Quando eu era pequena, o que conhecia do Líbano era o meu avô. E ele era lindo, um homem grande, elegante, carinhoso comigo e minha irmã. E ele nos pegava no colo e falava enrolado, mas um enrolado que era plenamente entendido por nós, tão pequenas e tão maravilhadas com as coisas que ele contava.
E ele contava coisas sobre seu país, de onde tinha saído com minha avó grávida de minha tia Genoveva, para vir construir uma casa no Brasil e ter mais sete filhos, entre eles, meu pai Faid. E ele contava também que, naquela época, o Líbano estava tomado pela França, por isso ele tinha vindo para o Brasil com um passaporte cheio de carimbos franceses. Eu não entendia bem o que significava aquilo, mas sentia que ele contava esta parte da história com voz triste. Ele era filho único e tinha deixado a mãe e o pai por lá para vir tentar a vida no “novo” continente.
E ele nos mostrava um camelo, que era o animal do Líbano, assim como o canguru é o animal da Austrália. E nos contava que o camelo passava dias e dias sem beber água, atravessando o deserto. E eu pensava o que poderia induzir um camelo a atravessar um deserto, ainda mais sem beber água, sem saber que no futuro, muitas vezes eu me sentiria meio camelo...
Tinha também, em sua escrivaninha, uma fruta seca, já meio desmanchada, que ele dizia ser de lá, do Líbano. E tinha uma bandeira com uma arvorezinha verde que eu achava linda! Ah! E os jornais que ele recebia escritos em árabe...a mesma língua de Sherazade das Mil e uma Noites.
Meu universo libanês se restringia a estes objetos, a estes sentimentos e, principalmente, ao meu avô. Mas era um universo tão lindo, tão mágico! Meu avô morreu quando eu tinha 6 anos e até hoje eu me lembro do meu Líbano particular. Principalmente quando vejo esta guerra maldita que devasta o país do meu avô, com a morte de tantas crianças do Líbano real, com a intolerância de um Estado cruel que impede que os camelos atravessem o deserto para cumprir suas sinas, que impede que as frutas cresçam nas árvores gerando futuras sementes, que impede que os cedros do Líbano cresçam em paz, principalmente agora, a imagem que tenho do Líbano é a cara do meu avô sorrindo, são os braços do meu avô me pegando no colo, é a fala do meu avô naquele português enrolado contando uma história de um país maravilhoso que corre hoje o risco de existir apenas em pensamentos.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

RECEITA PARA O DIA DO HOMEM

Coloque algumas rodelas de cebola numa panela média, regue com azeite, acrescente pedaços de alho. Não convém espremer nem socar os dentes de alho; retire sua casca e parta-os em três, no sentido do comprimento. Ligue o fogo e coloque a panela para esquentar. Pegue um pedaço de lombo de bacalhau já dessalgado e coloque em cima das cebolas e dos alhos. Deixe o fogo bem brando e tampe a panela, para cozinhar bem devagarinho.
Vá até a geladeira e sirva-se de uma taça de vinho. Saboreie-o também sem pressa alguma.
Corte em pedaços bem grandes dois pimentões verdes e reserve. De vez em quando, abra a panela e observe como o bacalhau está se comportando. Se precisar, acrescente algumas colheres de água. Sempre aos pouquinhos.
Outro gole do vinho.
Pensei nos meus domingos e percebi como cada um pode ser curtido de uma forma diferente. Mesmo fazendo sol, não fui à praia. Abri as janelas do apartamento de manhã cedo e fiquei olhando o verde que cresce a cada ano. Quando vim morar aqui, a vista que tinha da janela era boa, mas era uma pedra com alguma vegetação ali e acolá. Hoje, tenho à frente dos olhos e ao alcance das lembranças, várias árvores frutíferas, a pedra, flores miudinhas e um monte de verde que me deixa feliz. Foi ali na janela que resolvi: hoje vou fazer um bacalhau especial. Assim começou esta história.
Pausa para o vinho.
Volte a observar o bacalhau, ele cozinha rápido e você pode ir soltando uns nacos de vez em quando. Quando ele estiver todo despedaçado, em pedaços não muito miúdos, acrescente os pimentões cortados, azeitonas pretas e mais azeite. A panela sempre tampada.
Nessa altura, você já bebeu umas duas taças de vinho e convém arrumar a mesa. Chame o marido, o namorado, o companheiro, o filho, o amigo para partilhar este momento. Toalha da Provence, toda colorida, com muita energia e muitas lembranças de viagens deliciosas.  Partilhe com ele, também, nova taça de vinho e deixe que ele  sinta o cheiro delicioso que vem lá da cozinha, mas não diga o que está preparando.
O cozinhar é só, mas o comer é coletivo. Quem mesmo escreveu isso, ou coisa parecida???
Arroz branco, uma saladona de batatas e o bacalhau especial compõem a mesa onde, entre risos provocados pelo vinho e pelas lembranças de ambos, você pode então dizer que, além de ter amado cozinhar neste domingo tão ensolarado e especial, o almoço é para comemorar o recém-criado "Dia do Homem". Ele poderá até estranhar, mas vai gostar!
Dia do Homem? E o que isso significa? (Poderão me perguntar algumas amigas mais feministas.)  Sinceramente, não sei, mas que é uma curtição, é! Aliás, será difícil dizer quem curtiu mais, se eu ou ele, afinal, não se trata de um concurso, mas da vida fruindo calmamente....
Receita feita, receita compartilhada. Deliciem-se como eu me deliciei!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Trecho do livro "MULHERES QUE CORREM COM AS BARATAS"

-  “Olha bem pra mim e diz o que você vê. Diz o que você pensa. Olha.”
- “Dorme. É melhor eu não dizer nada.”


Se alguma vez você já viveu esta cena, então deve imaginar o que tem por trás dessa história...

Trecho do livro "MULHERES QUE CORREM COM AS BARATAS"

“A toalha dependurada na maçaneta da porta parecia contar outras histórias semelhantes àquela e apresentava em tons encardidos as digitais de outros corpos.”

 Leia o desenrolar dessa e de outras histórias...

quinta-feira, 7 de julho de 2011

PARALELAS

Meus pés repousados no encosto do sofá
me dão conta de que envelheci.
Eles me mostram uma pele clara e cinzenta
como os caminhos por onde os tenho levado a pisar.

Esses pés trazem as curvas da minha vida
inscritas em pequenas varizes
que me sobem pelas pernas.
Minhas pernas cansadas
que  não se abrem mais para o amor,
para os grandes saltos.

Sempre me intrigou
o fato de quase todo velho usar meias.
Descubro agora
que as meias dos velhos
são esconderijos de angústias
e lembranças de um tempo que já foi


Ah! Os velhos descalços, como são felizes!
Os velhos sem meias
sentem  o gozo da vida
pisando a terra sempre fértil.
Os velhos sem meias
têm o sol nos olhos
e contam histórias da vida vivida
e da vida sonhada sob a luz da lua.
Sem meias palavras.

Meus pés assim dispostos,
lado a lado sobre o sofá,
me dão conta de dois caminhos a seguir:
um, para fora do muro;
outro, para dentro das meias.

Meus pés assim paralelos,
me indicam que é hora ainda,
de justificar cada ruga
e vibrar com a história de cada uma delas.

É tempo de decidir:
andar com os pés interiores,
que nunca me deixarão parada no meio do caminho;
ou aguardar, desesperadamente,
que meus pobres pés paralelos
sejam finalmente cobertos pela terra fértil
por onde todos caminham.
Menos eu.