domingo, 26 de junho de 2011

INTROSPECÇÃO


Trago em mim todos os demônios
Do tempo
Todas as aflições
Da idade
Tudo o que não se nomeia
E nem se pode falar

Trago palpitando no peito
Dores, amores, temores
Tudo está a latejar

O diabo não está fora
O diabo não está dentro
Ele está

Trago brotando na pele
Feridas, doenças, coceiras
O perigo a germinar

Trago vazando dos olhos
Tristezas, injustiças, injúrias
Uma angústia milenar


E, no entanto,
Sinto mãos ávidas por outras mãos
Um corpo que quer ser abraçado
Sentimentos, emoções, compaixão
Pés que precisam percorrer
O caminho ainda não traçado.


E lá num canto, guardada,
Me queimando as entranhas,
Me fazendo gritar,
Trago ainda uma puta fé na humanidade.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O FANTASMA SOU EU

Todos os dias arrasto o resto de véu
Que teima em encobrir meus ossos já gastos,
Minhas órbitas vazias de encanto
Mas que um dia já encantaram o mundo,
A mandíbula aberta ao grito eterno.

E ainda que o sol aqueça a carcaça que um dia sorriu,
E ainda que o ar impregnado de brincadeiras e risos de crianças
Dê voltas pelos orifícios do tule branco que emoldura um rosto que já foi,
E ainda que ninguém mais em torno de mim possa testemunhar qualquer dor
E ainda que eu não mais consiga sentir esta dor
E ainda e ainda e ainda


Eu me largo e me permito algumas aparições.
Vago nas lembranças mortas nas noites de breu
Olho no espelho e grito
Pois, para meu espanto,
O meu fantasma sou eu.

POEMA

Senhoras e Senhores,
Jovens e crianças,
Bichos da floresta,
Amem!

Amem sem limites
Amem sem pudor e, principalmente,
Amem de forma simples e sincera.
E tragam os braços
Sempre prontos
Ao abraço,
Ao carinho,
Ao aconchego.
Que o amor se faz no ninho
E disso não se abre mão.

Amem, Senhoras e Senhores!
E reservem uma parte da vida
Para olhar a lua cheia,
Para sentir o arrepio
Das chuvas de verão,
Para plantar frutos e saboreá-los.
Que o amor precisa de uns temperos
Que, às vezes, estão fora do coração.

Amem, Senhoras e Senhores!
Amem o Pai, o Filho
E o espírito de todos os amantes.
E se permitam viver instantes
Que possam assegurar
Não ser a vida apenas um sonho.
Amem!

Amem e beijem muito,
E riam muito
E trepem muito.
Que o amor está em cada parte do copo
E é preciso saber tocá-lo.

Amem! Amem muito!
E tenham a sensibilidade de reconhecer
Os amantes que se entregam,
Se expõem
E os convidam a partilhar a vida.

Porque ainda não inventaram outra maneira de ser feliz.