sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A PROPAGANDA É A ALMA DO NEGÓCIO

 
Nunca gostei de ser bonita. Desde pequena era aquele inferno, todo mundo me olhava e ria, me olhava e dizia que linda ela é, é uma princesa, mas que olhos e tudo aquilo me deixava numa posição de alto de pedestal, distante das pessoas comuns, que era o que sempre sonhei ser: uma pessoa comum, dessas que não fazem ginástica, bebem cerveja, pegam sol, amarram o cabelo com uma xuxinha de qualquer cor, colocam umas havaianas nos pés e vão ali na padaria comprar pão.
Mas não. Eu nunca consegui ser assim, nunca me deixaram ser comum. Eu sou bonita e pago um preço alto pra caramba por isso. É uma maldição. Todo homem quer me comer, me passar a mão, me apertar. Toda mulher quer distância de mim, quer que eu me dê mal, quer que eu abra a boca para dizer besteiras...e ambos – homens e mulheres – não querem me escutar, cada um com seus motivos para os quais Freud deve ter uma explicação.
Pois bem, mesmo contra minha vontade, acabei me acostumando, porque é melhor ser bonita do que ser feia, uma experiência que eu gostaria de viver, mas só por um dia...talvez algumas horas...só pra ver como seria, porque deve ser um horror se olhar no espelho e ver uma cara que você não reconheceria como sua, se um dia lhe fosse dada essa opção.
É bom lavar o cabelo e sair ao vento, é bom acordar sem ter a cara inchada, é bom ir às festas sem precisar de maquiagem, comprar qualquer tipo de roupa porque tudo cai bem...é muito bom. E eu me apeguei a esse lado, porque só sendo muito burra pra não gostar de coisas boas. Mas é só um apego, um acostumar-se com, não constitui um gosto, uma vontade nem uma necessidade.
Eu nunca gostei de ser bonita, mas é bom sê-lo. Deve ser a mesma coisa que sentem os muito ricos; gostariam de ser pobres de vez em quando só para fazerem coisas que os ricos não fazem (porque não querem), como beber na birosca, trabalhar de sapato baixo, quer dizer, trabalhar de um modo geral, porque rico não trabalha, só usufrui...Então, sociologicamente falando, de uma forma politicamente correta, todo rico teria uma culpa (ah, inferno!), sei lá de quê, e gostaria de provar o gostinho de ser pobre pra ver se introjetaria valores mais humanos, pra ver se adquiriria um sentimento de pertencimento e aceitação de um grupo  diferente do seu, pra ver se...ah, vocês sabem...tudo no futuro do pretérito.
Pois ser bonito é parecido. Todo mundo elogia, mas ninguém quer muito por perto. A pessoa bonita, principalmente a mulher bonita, é um perigo. Porque o homem bonito não é visto como perigoso, logo o rotulam de bicha e pronto. É uma saída. Mas mulher bonita está fodida. Não tem saída, não tem escapatória nem perdão. E tem que aturar as outras mulheres, feias e bonitas, olhando de cara feia, desejando azar, desejando a morte e os homens, feios e bonitos, desejando apalpar seu corpo todo, comer você todinha e, pior, mostrar pra todo mundo. É, porque só comer não basta, tem que mostrar pros outros que estão comendo uma mulher bonita. Como se eu fosse um caviar, que nem todo mundo pode comprar, nem todo mundo gosta do gosto mas todo afirma que quer comer e todo mundo alardeia quando come porque dá status. Que saco!
Eu poderia ficar aqui falando, falando e falando das desvantagens de ser bonita, mas você que está me escutando, ser for bonita vai me entender, se for feia, vai me odiar e se for homem já deve estar procurando meu telefone, ou email, já deve estar querendo saber onde eu fico na praia e eu não direi que é na Reserva de jeito nenhum......

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

"São quentes as flores do meu jardim......"


"São quentes as flores do meu jardim
Vontade de mordê-las, apertá-las
Até que o cheiro se desprenda de mim
Até que sobrem só pétalas"



segunda-feira, 19 de setembro de 2011

EXPIAÇÃO

Tento me embriagar
com um copo de culpas.
Bebo com sofreguidão
e retalho a cama nua
fugindo do vazio das janelas
abertas eternamente.

Enfrento meu olhar juiz
condenando as coisas que não fiz
sem coragem nem credo
que me ajudem a enfrentar
a farta sujeira
do meu mundo encantado.

Há tempos ouso procurar
por onde entra essa luz
que pouco ilumina o meu quarto doente,
sem me dar conta do momento fatal
que emporcalha a confusão
das minhas horas.

Meu corpo goteja
desmanchando-se pelo chão
sem noção de que o copo está vazio.
A festa já acabou
e todos estão mortos.
A prova são seus corpos mutilados
e a culpa é minha.
Que venham os algozes
pois já estou condenada
e não ouço as vozes
dos que não acreditam em mim.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Trecho do "Livro das Mães"

Um dia acordei e me dei conta de como dói ser mãe! É como andar em pedra dura e ter medo de que ela se parta de uma hora para outra; é ter todas as certezas do mundo, duvidando apenas da nossa própria existência no momento certo em que o filho precisar de nós; é não dormir se o filho está sofrendo ou simplesmente se acabando em uma balada na noite. Estranhamente, tudo muda a partir do instante em que os filhos nascem. Não falo do corpo, que este volta para o lugar mais cedo ou mais tarde, ou nem tanto. Mas isso passa a não ser tão importante. Falo de um certo brilho no olhar, uma coisa divina que faz parte da fisionomia de todas as mães. Quem já teve a oportunidade de observar como uma mãe olha para seu filho, saberá do que falo. O que vai naquele olhar é como um raio X da alma do filho. Pode-se não saber exatamente o que está acontecendo, mas temos a exata dimensão de quando algo não vai bem. Mas não é só isso. Falo também de um medo que passa a percorrer o pensamento. Medo de não dar conta do recado, medo de não educar direito, medo de amar demais e sufocar, medo de amar de menos e deixar o filho sem colo, medo de perde-lo, medo de que fique triste...mas, acima de tudo, medo de que o filho não seja feliz. Deve ser porque as mães vêem seus filhos como continuidade de sua vida, a sua parte melhor, desenvolvida, com novas chances, novos caminhos a percorrer, uma parte que pode dar mais certo. Talvez por isso, os filhos são completos, corretos, lindos...nos sonhos de suas mães. Mas mesmo me dando conta disso tudo, afirmo, com certeza absoluta e o olhar mais intenso do mundo que ter filhos é a melhor coisa da vida. Ter filhos e vê-los caminhar independentes; ter filhos e ouvi-los falar com convicção sobre suas opções de vida; ter filhos e provar um sentimento maior que amor, um sentimento que é a própria tecitura da vida, num movimento de mão dupla e sempre na dose igual para cada um dos filhos que se possa ter. Um, dois, dez filhos, não importa. Porque não se trata de quantidade. Uma relação assim tão forte não pode ser conceituada nem medida. Ela dói e refresca ao mesmo tempo. Quem participa deste maravilhoso jogo sabe que vence quem percebe e aproveita cada detalhe vivido.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

NÃO BEBO MAIS COM CAMELOS


Não sei como algumas coisas acontecem, mas acontecem só comigo. Saí feliz da vida pra beber uns chopps na praia e agora estou aqui nesse deserto com um camelo de duas cabeças me olhando. Não me lembro o nome dele, mas o cara é legal, boêmio como eu e artista. Aliás, todo artista devia mesmo ter duas cabeças, uma para criar, pensar e a outra pra sentir dor e passar pelas ressacas do dia seguinte, porque, se tem uma coisa que não combina é a vida real com a vida boêmia. Quando penso nisso, me dá até uma comichão, um contorcimento mental, porque ser boêmio é bom demais, não é, camelo? Ele me contou que a outra cabeça, às vezes, quer submetê-lo a certas coisas chatas como atravessar deserto, ir ao zoológico, mas que ele gosta mesmo é de ser artista. Ele é um camelo voador, e viaja na maionese, esse cara, mas é um cara legal. Só está é se amarrando pra me levar de volta pra casa, pois eu prefiro que ele me leve na garupa dele, afinal, eu moro no Rio e esse deserto fica longe pra cacete, mas a outra cabeça dele se mete na conversa e teima em me dizer pra eu levantar, sacudir a areia da praia, atravessar a rua e voltar pra casa. Não bebo mais com camelos!      

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A MULHER QUE CANTA

"Perdeu-se o dia em que teve início a cantoria. No início, dizem, todos gostavam. Era uma voz tímida, suave. Quase um lamento. Talvez fosse época da bossa nova e talvez tivesse dado a partida quando fazia suas caminhadas pela orla de Copacabana, inspirada pela tardinha que cai. Talvez tivesse começado a cantar em substituição às diversas lágrimas que vinha derramando após uma paixão reprimida. Talvez tivesse feito um pacto com o demônio ......................"

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