domingo, 29 de janeiro de 2012

NÓS E VOZES



NÓS E VOZES 

Sons
nem sempre palavras são.

Às vezes
ruídos
daqueles doídos.
Melhor não ouvi-los.

Às vezes, barulhos
explosões atrás de muros.
Nem sempre vozes.

Sons
de repente
podem ser o nosso algoz.
Às vezes, nós.
Nem sempre desatados.

Entre as vozes e os nós
fico com o silêncio.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

ESSE LIVRO MUDOU A MINHA VIDA

Podem os livros mudarem a vida da gente? Algumas pessoas já fizeram esta pergunta, inclusive eu. Minha resposta é sim. Alguns livros, às  vezes, uns poucos versos ou um simples parágrafo tem o poder extraordinário de nos religar a nós mesmos, àquela parte essencial de cada pessoa, cada alma e é aí que a gente se sente mexida e é ai que a vida da gente muda.
Ainda me lembro de quando li "O Poema Sujo", de Ferreira Gullar. Quando terminei, li novamente e constatei: alguma coisa denro de mim havia mudado. Para melhor, tenho certeza!
Outros livros também colaboraram. Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marques; alguns contos da Nélida Piñon; poesias de Drummond e Vinícius de Moraes; Os Miseráveis, de Vitor Hugo e por aí vai...
Cada um a seu tempo, cada um provovando mudanças.
Hoje, para meu espanto e alegria, ouvi dois jovens conversando. Ele tinha ainda muitas espinhas e um projeto de bigode se anunciando. Ela balançava seus cabelos compridos e não usava maquiagem alguma. Os dois muito novinhos.
E em determinado momento, o papo deles me chamou a atenção. Ele disse, numa vibração intensa: "caraca, mas esse livro mudou a minha vida!! Foi a frase que me sugou e me levou a fazer uma coisa meio feia, que é prestar atenção na conversa dos outros. E ela, sorrindo muito, falou alguma coisa que eu não entendi direito.
Mas ele entedeu e continuou: ".. o meu modo de ver o amor, de perceber as coisas no mundo! Eu não conseguia ler mais de 50 páginas por dia, porqueeu ficava muito impregnado com os v´rios sentimentos que o livro me passava e aí, eu tinha que parar para vivenciar tudo aquilo, entende?"
Sim, a mocinha entendia. E concordava. E também achava o máximo.
Aquela conversa foi me emocionando de tal forma, que não resisti e perguntei de que livro eles falavam. Os dois responderam ao mesmo tempo: "O Amor nos Tempos do Cólera!" A mocinha completou: "Aliás, tudo que é do Garcia Marques, eu adoro!"
Eu também adoro, mas nnca tinha presenciado cena igual. Uma cena de amor explícito pela literatura, pela vida. Dei parabéns aos dois, que já estavam marcando de se encontrarem amanhã e fui embora.
Gahei meu dia!

Foto copiada do blog: http://havidaemmarta.blogspot.com/2009/03/tipos-de-livros.html

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

2011: O ANO QUE NÃO EXISTIU

Agora que estamos definitivamente em 2012, ouso afirmar que 2011 não existiu. Quem viu 2011 passar por aí? Porque eu não vi nem cheiro nem sombra de um ano que simplesmente não teve tempo de acontecer. Já tivemos 1968, o ano que não terminou; 1958, o ano que não devia terminar e, agora, a mais nova modalidade: 2011, o ano inexistente.
Começou inibido, sombrio, com catástrofes, enchentes e tristezas. Quando menos se esperava, vieram as férias de junho, férias de que se eu ainda nem tinha conseguido trabalhar direito?
Uma prova de que 2011 não existiu foi a inexistência de seu próprio réveillon. Não houve uma contagem regressiva e, embora estivesse na França, a terra do champagne, não percebi nenhum espocar de rolha rumo ao futuro. Uns e outros estavam perdidos. Não vi nos olhos dos outros a alegria dos tempos vindouros, nem nos lábios de uns os questionamentos e as conjecturas de praxe sobre o tempo, os anos, planos e necessidades mais urgentes. Tampouco senti em meu peito o aperto da ansiedade pelo ano que chega nem em meus olhos as lágrimas pelo ano que se foi. Meus braços não abraçaram ninguém, não desejei feliz ano novo a quem quer que seja.
Como testemunha de defesa de minha tese, chamo Mademoiselle Margaux, que vaticinou já no mês de julho: “Não farei aniversário este ano. Ainda não tem um  ano que festejei meus 58 anos e não será em 2011 que festejarei os 59. O tempo está doido, o bicho está solto e não acho que seja saudável fingirmos que o tempo está andando na velocidade certa. Não está. Alguma coisa está acontecendo. Alguma coisa está errada. Está passando muito rápido. A roda está rodando sem governo, mas eu me nego a assinar esse cheque em branco. Não farei aniversário este ano. Está tudo muito esquisito!” Respeito muito as observações de Mlle. Margaux, quase uma bruxa na arte de prever as coisas.
Outra opinião muito balizada sobre estas questões nem filosóficas, nem religiosas, um tanto ou quanto generalistas, é a opinião da Dona Cristofa. Na sua quietude, do alto dos seus 98 anos, ela observa e, quando fala, fala com a sabedoria inerente às pessoas santas. Dona Cristofa, a partir de agosto, começou a se referir às atividades próximas como quem se refere a um futuro de médio prazo. Assim, passou a planejar fazer as compras do supermercado no ano que vem (e não na semana que vem), escovar os dentes daqui a um ano (e não um instante), comprar as fantasias de carnaval (e não os enfeites para o Natal) e por aí a fora. Muito sintomático, em se tratando de Dona Cristofa. Fosse outra pessoa, poderiam dizer que era confusão por causa da idade, mas não com ela. Não havia confusão em sua cabeça. O que estava verdadeiramente confuso era o tempo. Correndo demais.
Na família, ninguém estava grávido. Este era um outro sinal claríssimo de que 2011 não estava existindo, porque em todo ano que se preza, em nossa família, nasce uma criança e outra já está encomendada. Não houve isso em 2011, logo, 2011 não é um ano que se preze.
Há algumas vantagens em pularmos 2011. Estamos todos mais novos um ano. Somos todos crianças imaginando que, se a terra é redonda, os japoneses estão de cabeça para baixo e imaginando que, se uma coisa não é boa, a gente pode fazer de conta que ela não existe e passar adiante. Porque a fila anda, outros anos estão doidinhos para acontecer e a nossa imaginação é apenas uma criança com muito tempo pela frente para dar o que falar.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O QUE HÁ DEPOIS DO TÚNEL? Post para o Caneta,Lente e Pincel

- Amor, não olha agora não, mas acho que estão nos seguindo.
- Quem, numa hora dessas?
- Só pode ser o Genaro, aquele filho de uma égua parida...
- Vou acelerar...
- Hum...nessa merreca de carro? O dele corre mais.
- Peraí, você ta defendendo aquele corno? E TIRA ESSA MÃO DAÍ!!!
- Não, amorzinho, claro que não. Só estou falando que o carro dele é muito melhor que o seu. Aliás, este é um dos motivos de eu continuar com ele e só sair com você de vez em quando. Corre! Ele tá chegando perto, amor...
- Tu é mesmo muito cara de pau! Pilantra!
- Pilantra não, que eu não te peço nada. Ele me banca de tudo, que você sabe muito bem. Entre você e eu, benzinho, é só sexo. Pensei que isso estivesse claro entre nós.
- Claro, está tudo claro. Só na sua cabeça. Porque nesse túnel dos infernos e dentro da minha cabeça ta tudo muito escuro. Não tem saída.... Ui...no ouvido não, eu to dirigindo, peste!
- Se não tem saída, Nem, pisa mais fundo e bota essa carroça pra correr. O Genaro é violento, já te falei...um...tá ficando do jeito que eu gosto...
- Mulher maluca! Desce do carro! E tira essa boca daí!!
- Você quer que eu desça com o carro andando, meu lindo? Vai estragar o meu corpinho que só te dá prazer...
- Tira essa mão daí! Tô falando sério! Vou parar assim que a gente sair do túnel. Aí, você entra no carro do Genaro e...
- Ah, amor, então, é só acelerar mais uns 200m e aí a gente vai chegar ao paraíso. Tem um motelzinho bem legal, logo ali..... depois do túnel.......ô homem cheiroso, sô!

Imagem: Marcos Sêmola
Texto: Maria Emília Algebaile