Meu nome é Carolina. Eu detesto o meu nome. Não sei o que se passou no cérebro dos meus pais quando decidiram
me nomear desse jeito. Eu e mais
trezentos e setenta e oito mil garotas do Brasil nascemos com essa marca:
CAROLINA. Odeio coisa comum, gosto do diferente, do excêntrico.
Meu Jesuzinho Cristinho, pra ser bem carola e fazer jus ao meu nome, me diga onde andou a criatividade do povo daquela
década? Só pode ter sido alguma novela, é isso, uma personagem de novela,
talvez interpretada pela Regina Duarte, fez tanto sucesso que os pais tiveram
que ceder aos apelos das mães, antes
que o casal se separasse, e as crianças do sexo feminino foram batizadas com o
nome de Carolina.
Mas isso é só um pormenor que
passou por minha mente criativa e curiosa, tão curiosa que decidi me lançar a fazer uma pesquisa sobre a
origem do meu nome. Pode não parecer, mas adoro essa coisa de pesquisa, menos
do Ibope que, aliás, nunca me indagou
nada. Pois bem, resolvi averiguar, já
que minha mãe e meu pai não me dão nenhuma explicação razoável. Achar um nome “bonitinho” não pode ser suficiente para
dar esse nome à própria filha.
Comecei pesquisando nas revistas que tem lá em casa e depois fui ampliando, pois tinha uma necessidade vital de descobrir mais e mais sobre o
assunto. Queria fazer um mapeamento
da situação. Então, fui pra biblioteca da minha escola, mas teve uma
infiltração desprezível lá e eu só
consegui passar os olhos em alguns livros, os mais fininhos, é claro, porque os
mais grossos me dão um sono nefasto,
além de estarem com cheiro de mofo e com as páginas rasgando. No segundo dia
dessa tarefa hercúlea, veio a luz: o
Google! Foi o que me salvou.
Nas minhas investigações,
descobri coisas muito importantes, como uma música daquele coroa, o Chico Buarque,
cujo nome era Carolina e que falava de uma coitadinha que tinha os olhos
tristes e que devia ter o cotovelo todo escuro de tanto ficar na janela...acho
que ela esperava a banda passar, não me lembro direito da história, só sei que
o tempo passou na janela e Carolina não viu. Ah, e a banda também passou e, ao
contrário do que ela pensava, a fanfarra
não tocava pra ela. Agora, me digam, porque eu colocaria na minha filha um nome
tão marcado para sofrer?
Uma das coisas bem legais dessa minha nova fase de vida, a fase de
pesquisadora, é que descobri um monte de recursos de ajuda no computador. Você
pode escrever qualquer palavra; aí, você coloca o mouse em cima do vocábulo (que
você já repetiu mil vezes ou que, simplesmente, quer substituir por uma palavra
mais chique) e clica com o lado direito: milagre! Aparece uma montoeira de
sinônimos! Resolvi escrever todos com aquela letra inclinadinha, chamada itálica. Com isso, estou escrevendo bem
pra burro, pareço até a minha tia que fez Mestrado e que fala diferente de todo
mundo lá de casa, lá do bairro...quiçá
do Brasil!
Navegando pelo Google, encontrei uma outra Carolina, amada
pelo Machado de Assis, o bruxo do Cosme Velho. Eu pensei que ele fosse
escritor, mas tá lá no Wikipédia: bruxo. Não deu tempo de eu ler tudo, mas
fiquei com a nítida impressão de que,
ou ela era uma bruxa também ou era um tipo assim de musa ao contrário. Digo
isso, porque acho que musa é uma mulher que inspira o cara e os versos que ele
escreveu pra ela eram muito, como diria, esquisitos, moribundos, ah, ininteligíveis.
Imagina, fazer versos pra mulher morta! O tal do Machado ia declamar versos na cova da falecida,
ora, me poupem! Só podia ser bruxaria mesmo!
“Querida, ao pé do leito derradeiro/Em que descansas dessa longa vida,/Aqui
venho e virei, pobre querida...” E seria essa mulher que teria inspirado
meus queridos genitores? Inacreditável!
A gente podia trocar de nome com facilidade. Também já pesquisei muito sobre o assunto e vi lá no
Google que a filha da Baby Consuelo se chamava Riroca e alterou sua denominação para...Sarah Sheeva. Eu preferiria Riroca,
tem mais sonoridade, mais humor,
rimas mais interessantes, mas, enfim, o que importa é que ela trocou o nome. Eu
só queria entender. Porque um nome único e com as qualidade acima mencionadas pode ser trocado por um
outro, igualmente único, mas esquisito pra caramba etc e tal e eu não posso
trocar o meu nome comum, que só tem história triste por um outro mais condizente com a minha personalidade?
Conta a história que, na América do Norte, terra de gente inteligente e
rica, tem um lugar chamado Carolina do Sul e outro chamado Carolina do Norte.
Fui ao Google Maps e vi, existe mesmo. O Wikipédia diz que, anteriormente, era tudo uma coisa só:
uma colônia chamada Carolina, em homenagem ao Rei Carlos II, da Inglaterra.
Curioso é que, se fosse eu, iria homenagear um cara poderoso da América do
Norte, fala sério! Da Inglaterra só conheço mesmo é o Harry, o único príncipe
disponível no mundo.
Fico imaginando, o dia em que nasci, o corredor do hospital com aquelas
plaquinhas com os nomes dos bebês: Carolina-carolina-carolina-carolina...deve
ter sido hilário. E fico arquitetando que nome vou colocar na
minha filha, quando eu tiver uma. E, pior, fico idealizando minha lápide:
“Aqui jazz Carolina”..vai ter tanto jazz Carolina no cemitério que aquilo
vai virar um show!
Acho que vou preferir ser cremada.
Este texto fez parte da Exposição Caneta, Lente e Pincel - Centro Cultural Justiça Federal - RJ Abr/Mai 2012