quinta-feira, 22 de novembro de 2012




Gosto do barulhinho da chuva
Do cheiro de bolo no forno
Gosto da onda do mar
De ver criança brincando
Jovens a se beijar
Gosto de abraço quentinho
De poça d’água pra pisar
Gosto de um bom livro
E de música pra dançar
Mas se o coração está triste
Ergo-me com o dedo em riste
E mando tudo esperar!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O DIA EM QUE LUÍZA ANDOU NAS NUVENS





Um dia ela acordou e decidiu vencer os medos, conhecer novos ângulos, respirar outros ares, brilhar e espalhar sua luz pelos caminhos em que nunca ousara pousar os pés delicados.
Saiu de casa e sorriu para quem passava na rua. Foi caminhando de coração aberto e praticamente saltitava de alegria ao perceber as nuances do verde, os diferentes olhares das pessoas, com seus cabelos cada um de uma cor. Seguia sempre em frente, pois sua meta era alcançar o horizonte.
E foi colocando carinho em seus passos, absorvendo os cheiros das flores e transformando cada olhar duro em doçura. Quase levitava e, por onde passava, deixava atrás de si um mundo mais feliz.
Ainda hoje se fala neste dia. O dia em que Luíza andou nas nuvens.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

SÓ GUARDO DE TI




Só guardo de ti
A palavra farta
O abraço quente
O suor caudaloso
Teu corpo gostoso
Bailando em nossa cama sem fim

Só lembro  de ti
O grito na noite
A força da luta
O escuro da gruta
Teu olhar de espanto
O sorriso marfim

Abro os olhos e grito
Só peço a ti
Que volte pra mim
Que volte pra mim
Que volte pra mim

domingo, 4 de novembro de 2012

SEMPRE UMA SABIÁ




Choveu a noite inteira e agora, pelas primeiras horas da manhã, a natureza se apresenta de alma lavada. Os verdes assombram a vista e se colocam inteiros em cada arbusto, grama ou grande árvore que aprecio.
Sento à mesa do café e me deleito com a paisagem que vejo da janela. Está nublado, mas não chove mais. Algumas plantas ainda carregam sobre suas folhas algumas gotas de água e eu não saberia precisar se são gotas de chuva ou de orvalho. Sei que brilham e bailam e algumas se permitem cair das folhas ao encontro da terra úmida que as abrigará.
Entre um gole de café forte e um pedaço de bolo, vejo em minha janela um pássaro caminhando de um lado para outro. Imponente, cabeça erguida, o peito alaranjado, vejo tratar-se de uma sabiá-laranjeira.
Ela me ignora solenemente e salta para os galhos próximos para, em seguida, como que seguindo um ritual, desfilar no parapeito da janela. Fico inebriada com aquele ser que esfrega sua natureza de pássaro em minha cara e dá pequenos vôos ao redor das árvores do meu quintal. Que bela apresentação!
Penso em abrir o vidro da janela para ver se ela entra em minha sala. Mas, não. Ela não me presentearia com uma visita. Tento me aproximar, mas ela entende meus movimentos e voa para mais longe.
Recolho-me e fico quieta olhando. Ela se aproxima do vidro e dá pequenas bicadas. Estaria tentando se comunicar comigo? Que sentimentos teria a compartilhar comigo? Não. Penso que vê sua figura refletida e tenta um entendimento. Ela só quer se comunicar com os iguais e eu, muito presa ao chão, custo a compreender isso.
Uma sabiá no café da manhã parece ser uma coisa simples para quem enxerga apenas um pássaro, uma xícara com líquido quente e preto, uma casa numa cidade do interior. Mas o cheiro do café, há muito, penetra minhas cavidades e me provoca viagens no pensamento e na alma. E o pássaro, quando se coloca na condição de liberdade que sua conformação física lhe permite, me toca lá no fundo, me provoca as vontades mais loucas de experimentar sair da minha gaiola e ver a vida mais de perto.
Estou prestes a ter uma vertigem. A visão da sabiá passeando em minha janela é um chamamento a que eu me desacomode de minhas almofadas mofadas e sinta o cheiro do mato e perceba os matizes da vida e, enfim, abra minhas asas e saia de mim.