quarta-feira, 20 de abril de 2016

RESENHA – O PIANO, de Jerusa Nina
por Maria Emilia Algebaile

Primeiro romance de Jesusa Nina, O Piano, Editora Giostri, SP, 2015, nos traz a leitura prazerosa de um texto bem escrito e sensível que nos permite viajar por nossa infância e adolescência, revisitando nossos sonhos e medos, percebendo os caminhos que tanto nos aproximam e nos fazem sermos tão diferentes uns dos outros.
Desde o início da leitura temos a clara sensação de estarmos nos construindo ao acompanhar o crescimento da personagem-narradora Áurea. E cada capítulo é narrado com tamanha simplicidade e delicadeza que sentimos mesmo nosso envolvimento aumentando a cada capítulo desta trama.
Obedecendo a uma narrativa linear, observamos, no entanto, que a fala do narrador vem de um lugar futuro e, por isso mesmo, empresta ao texto muita  verossimilhança e omnisciência. Não são poucos os momentos em que Áurea, a personagem-narradora, sinaliza não ter clareza do estava vivendo naquele momento, mas que mais tarde teria completa consciência o que, portanto, oferece o aval para exprimir tal opinião no momento narrado. Não ficam fios soltos.
O tempo vivido e o tempo narrado dialogam o tempo todo e isso dá uma dinâmica bastante interessante ao texto, que é trabalhado observando um cuidado respeitoso pela língua e suas normas, com expressões precisas, palavras bem colocadas e parágrafos construídos com a preocupação de quem sabe o valor e a importância de uma frase bem feita, seja musical ou literária. Como a narradora já é uma pessoa adulta e culta, a linguagem empregada soa perfeita. Fosse uma jovem, haveria necessidade de revisão para compor o quadro ideal. Mas está perfeito do jeito que está. 
Se “a música é o resultado do encontro entre o compositor e seu intérprete”, a literatura também é o encontro entre o escritor e o leitor. E esse nosso encontro com Jerusa Nina é tecido com os fios da sensibilidade. Impossível não nos envolvermos pelo enredo, torcendo por Áurea ou simplesmente acompanhando suas descobertas e conquistas. Impossível não nos emocionarmos com sentimentos tão complexos e, ao mesmo tempo, tão comuns em nossas vidas, em nossas histórias. Um belo livro.