terça-feira, 26 de março de 2013

FRATURA EXPOSTA, de Maria Emilia Algebaile. Editora Verve, 2013. 128 páginas.

"Os poemas apresentados em “Fratura Exposta” foram construídos em torno de momentos de crise e ruptura com situações ou condições que pareciam sólidas e estabelecidas. Não tratam de crises passageiras que apenas agitam a superfície dos fatos. Tratam daquelas crises cuja intensidade põe em cheque tanto o futuro quanto as próprias formas de compreensão do passado e da experiência histórica que parecia confirmar os seus sentidos.
A linguagem, na sua forma pretensamente uniformizada de expressar a vida; a intimidade, enganosamente percebida como lugar de acúmulos inabaláveis; o mundo organizado, identificado como condição de estabilidade; e o amor romântico, entendido como garantia de parceria e acolhimento, são os quatro elementos submetidos à fratura, em um exercício que, no entanto, contraditoriamente, também é experimentado como desafio de entendimento e tentativa de reescrita do modo de estar no mundo." 

sexta-feira, 15 de março de 2013


Ela chegou pisando leve de tanta ansiedade que trazia nas várias camadas de pele, uma pele macia que se eriçava ao toque cheiroso da brisa do mar. Pensamentos infinitos, sentimentos híbridos e sensações desconhecidas arrefeciam a estranha mania que tinha de manter os pés na realidade. Ainda não descobrira que a vida só acontece dentro do coração, da mente e do corpo. O resto é apenas exterior, é paisagem que emoldura o viver.
Sentada na areia branca e fina, observava o horizonte enquanto a luz do dia se dissipava a cada piscar de olhos. Deu-se conta da existência quando o escuro se fez mais completo e conseguiu ver as estrelas que lhes piscavam os olhos, buscando cumplicidade.
Era noite, então. E ela fechou os olhos e se deixou levar pelo barulho molhado das ondas que ousavam respingar em seus pés. Súbito, uma faísca rompe a linha do horizonte e, mas rápido que seu pensamento, surge o sol a queimar-lhe as retinas. Uma luz de absoluta vida entrando por todos os poros, com cheiro de existência e sonho, a chamava de forma definitiva. Deixou-se abduzir e foi então que nasceu.

sábado, 9 de março de 2013

Mais um pouco do "Livro das Mães" - Hora Certa


H
ORA CERTA – (1) Lembre-se sempre da Lei de Murphy: se estiver em dúvida sobre a hora certa de falar alguma coisa, não fale. A hora vai estar errada. (2) Se marcar para sair daqui a 15 minutos, por favor, saia daqui a 15 minutos. Não atrase porque, se você atrasar vai dar munição pra ele chegar atrasado em casa (hehehe... essa é do século passado, mas ainda funciona). Ele pode até chegar atrasado, mas não vai ter essa desculpa. (3) A hora certa para sexo é qualquer hora. Eu sei que vocês já descobriram isso, mas é que, com o tempo, vocês podem ir esquecendo. Ah, e é claro que esta verdade só vale para você e seu marido, senão pode dar confusão (hehehe... de novo).

sexta-feira, 1 de março de 2013

ERA UMA VEZ LUDOVICO




Ludovico era um cachorro que sonhava em ter uma vida gostosa, numa casa onde os donos o tratassem com amor e sentissem orgulho dele. Na verdade, ele ainda não era bem um cachorro, era apenas uma idéia de cachorro ou, se preferirem, era uma alma de cachorro em busca de um corpo para poder nascer.
Ele vivia no espaço e ficava lá de cima olhando os países, as cidades, as pessoas e ficava sonhando e imaginando a sua vida terrestre. Como seria, se ele nascesse no Japão? E se ele fosse viver em Paris? Quem sabe, teria uma boa vida se fosse o animal de estimação da Rainha da Inglaterra? E se os seus donos tivessem outros cachorros? E se os filhos de seus donos não gostassem dele? E se ele se comportasse de uma forma estranha e não agradasse os donos?
Ludovico tinha muitas perguntas, muitos sonhos e medos, mas ficava esperando sua vez de nascer. Todo mundo espera sua vez de nascer e tem que ir se preparando para viver sua vida da melhor forma possível.  O tempo passava...
No Brasil, na cidade mais linda do mundo, o Rio de Janeiro, havia um casal que desejava muito ter um cachorro, mas eles queriam ter um cachorro especial, que completasse a vida deles, que desse e recebesse carinho, que roesse chinelos, comesse os biscoitos do armário, que fizesse xixi pela sala e que enchesse a casa de alegria. Joana e Raul se conheciam há muito tempo, se amavam há muito tempo e viviam buscando o cachorro ideal.
O tempo foi passando e eles continuavam a procurar um cachorro que olhasse nos seus olhos e latisse direto dentro do coração deles. Não é sempre que isso acontece. E eles ficavam pensando em como seria esse cachorro e o que fazer para merecê-lo. E se ele fosse zangado? E se ele mordesse as visitas? E se ele não gostasse da vida que eles lhe oferecessem? E se eles fossem uns donos egoístas e o cachorro fugisse de casa?
Joana e Raul tinham muitas perguntas, muitos sonhos e medos, mas ficavam esperando o momento certo e o cachorro certo. Todo mundo deve esperar o momento certo para as coisas acontecerem da melhor forma possível.  O tempo passava...
Mas um dia, como num conto de fadas, uma estrela conduziu o Ludovico para junto de Joana e Raul. E, quando viu os olhos dos dois, Ludovico se apaixonou. E quando Joana e Raul ouviram seu latido, souberam que era ele. Os corações se reconheceram e não precisou mais nada para saberem que seria um amor de verdade. E todos viveram felizes para sempre.