Este é o blog de Maria Emilia Algebaile, com contos, crônicas, poesia, fotografias,textos, sugestões de leitura e reflexões sobre nosso cotidiano.
sábado, 23 de agosto de 2014
Caneta, Lente e Pincel: UMA LUZ
Caneta, Lente e Pincel: UMA LUZ: Uma luz tímida teima em chegar aos meus olhos bem devagar, bem devagar, contrariando as leis da física que, soberbamente, classificam...
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Caneta, Lente e Pincel: ALTERNATIVAS
Caneta, Lente e Pincel: ALTERNATIVAS: ALTERNATIVAS Descida, subida Caminho a escolher Se viro à direita Não dá pra correr Se viro à esquerda Com rapidez Degrau...
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
SAUDADES DE MIM
Quando vejo alguém morrendo, me dá saudades de mim e acho que é por isso
que eu choro. Eu me lembro de tudo que já vivi, tudo que já sonhei e percebo
que, um dia, eu também vou morrer e talvez não dê tempo de fazer tudo o que eu
desejo nem de sonhar coisas para o futuro.
Eu penso que, quando me olhava no espelho, eu via uma cara que eu não
vejo mais... mas, ao mesmo tempo, o meu olhar me diz que aquela lá dentro ainda
sou eu e tenho medo de que um dia eu deixe de ser.
Eu me recordo dos banhos de chuva que tomei, dos mergulhos que eu dava no
mar, da sujeira que eu fazia com a farinha de trigo na cozinha de minha mãe
aprendendo a fazer bolo e eu não queria deixar de fazer isso tudo. Mas um dia eu
vou deixar.
E é por isso que eu sinto saudades de mim, daquela que eu fui lá atrás e
daquela que eu serei antes de morrer, porque, quando a gente ainda está vivo,
não dá importância a comer um feijão fresquinho, não presta atenção ao cheiro
do sapato novo, não dá o devido valor ao calor do abraço, às vezes nem mesmo
registra quantos litros de lágrimas já choramos ou quantos metros de dentes
brancos já mostramos ao darmos gargalhadas. Simples assim.
E quando eu vejo alguém morrendo, eu acho que morro um pouco também,
porque a gente não é só a gente, a gente vive na relação com o outro e se os
mil outros que nos fazem perceber a vida. Se alguns desses mil outros se vão,
um pouco da gente vai também.
Eu sinto saudades do que eu ainda não fui, que é pra ver se ganho tempo.
Tanta planta que eu ainda não plantei, tanto sangue que ainda não ajudei a
estancar, tanto beijo que ainda preciso dar, netos que vão nascer, aquele
tapete que eu bordo há mais de 15 anos...
Tanta coisa eu tenho pra começar, pra terminar, pra simplesmente deixar
acontecer: matar as formigas que vivem atacando minhas roseiras; experimentar
aquela receita nova que minha filha me deu, repetir exaustivamente, sem nunca
conseguir fazer igual, aquela receita que minha mãe me passou e que só ela sabe
preparar; ensinar a alguém as coisas que eu aprendi nas aulas de literatura, de
vinho, de francês, principalmente o que aprendi com a vida.
Eu não tenho medo de morrer, eu tenho medo de não viver, Vitor Hugo já
falou isso muito antes e muito melhor e eu não tenho o menor pudor em dizer de
novo pois, quando a gente lê algo que nos marca profundamente, a gente acaba
por internalizar as palavras, que vão se transformando em sentimento e aí a
gente já não sabe bem quem pensou aquilo primeiro, nós ou o escritor. E também
por isso eu choro, pelas saudades de tudo o que eu poderia ter dito e pelas
coisas que, um dia, vou parar de dizer.
E talvez seja por tudo isso que eu vibro quando acordo de manhã e vejo
que acordei de verdade, que não é um sonho ou uma visagem. É porque eu gosto de
viver e, quanto mais viva eu estiver, menos saudades eu vou sentir de mim.
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