Na praça vazia, dois mundos se
contrapõem.
Dois mundos se complementam.
Sentada no chão, entre restos,
Conhecida andarilha deixou filhos, um
amor torto e lançou-se ao mundo.
Acompanhada pelo álcool, pensa na
vida que teve.
Quem passa apressado contempla a
transparência
Daquela escultura que ainda tem veias
e sonhos
Um macabro monumento ao não-humano.
Do outro lado, em pedestal destacado,
um busto valioso de alguém sem identidade, inerte
na sua eternidade de bronze,
celebra a vida desimportante sem
significado para os que passam por ali.
Um monumento à indigência.
Mas existe a praça, síntese da vida.
Na praça vazia , dois mundos se
contrapõem.
Dois mundos se complementam.
E ninguém se vê representado
Em nenhuma das duas estátuas.