quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

O MONUMENTO E A INDIGÊNCIA

 

Na praça vazia, dois mundos se contrapõem. 

Dois mundos se complementam.

 

 Sentada no chão, entre restos,

Conhecida andarilha deixou filhos, um amor torto e lançou-se ao mundo.

Acompanhada pelo álcool, pensa na vida que teve.

Quem passa apressado contempla a transparência

Daquela escultura que ainda tem veias e sonhos

Um macabro monumento ao não-humano.

 

Do outro lado, em pedestal destacado,

 um busto valioso de alguém sem identidade, inerte na sua eternidade de bronze,

celebra a vida desimportante sem significado para os que passam por ali.

Um monumento à indigência.

 

Mas existe a praça, síntese da vida.

Na praça vazia , dois mundos se contrapõem.

Dois mundos se complementam.

E ninguém se vê representado

Em nenhuma das duas estátuas.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

EU SIGO

 



 

Está escuro, mas vai clarear

Eu sigo

O medo não vai me parar

Pessoas dormem

Gente sofre

Baratas passeiam no chão

Eu sigo

Outros me seguirão?

Uma hora, eu sei, essa sombra vai clarear

Cada amanhecer tem o seu tempo

Não adianta acelerar

Bichos de hábitos noturnos

Povoam bares, bordéis, todos na escuridão

Crianças nascem

Crianças morrem de medo do bicho papão

Está escuro e eu sigo

Ninguém me para não

Em frente ou pelo atalho

Eu sigo

Que um dia a luz surgirá

Queiramos, desejemos, ou não.

Eu sigo

E quem quiser vir comigo,

Chega mais perto, me dê a mão.

O caos se renderá ao impulso da emoção.

 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

BOCA DO INFERNO


 

Grita, que o mundo é surdo

Parla, que eu não escuto

Dessa boca infernal

Saem palavras que queimam

Palavras que cheiram mal

 

Mais que flechas envenenadas

Mais que tiro bem certeiro

Falas de um jeito que mata

Feres quem não te acata

Maldizes o mundo inteiro

 

Mas há de chegar o dia

Em que o fogo apagará

Em que fecharás os olhos

Pra teu coração escutar

 

Será tarde, sinto muito,

Para tentar ponderar

O fogo da tua consciência

É que te consumirá