sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Caneta, Lente e Pincel: Liberdade Distante

Caneta, Lente e Pincel: Liberdade Distante:


Foto: Paulo de Resende
                                                                                            Texto: Maria Emilia Algebaile

Asas suaves
Pelos no corpo
Caminho torto
Queda livre no ar.
Baque soturno
Pecado diurno
Sou feito um gatuno
Para te furtar.


Liberdade distante
Voo raro e rasante
Fuga desabalada
Rasgando o ar.
Pouso forçado
Tapa na cara
Ferrão afiado
Para te ferrar.


Beijo final
Face do mal
Caminho de terra
Não vou trilhar.
Pega o spray
Eu te esperei
Mas não fico aqui
Para te ver passar.

Caminho atrevido
Zumbido no ouvido
Vinte e quatro horas
Para te azucrinar.
Livre do asco
Serás meu carrasco
Bate com força
Me tira do ar.

Sou fera vencida
De mal com a vida
Sua mão atrevida
Não me fez parar.
Surto no campo
Seque seu pranto
Não freie o encanto
De me assassinar.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Mais um trecho do "Livro das Mães"

A
BRAÇO – Quando minhas filhas eram pequenininhas, várias vezes por dia havia choro de criança lá em casa. Às vezes, era uma dor, às vezes, uma fralda molhada, outras vezes era só manha mesmo, mas tinha uns choros que eu não conseguia identificar. E vê-las vermelhinhas, com lagriminhas nos olhos, chorando pra caramba – e vamos combinar que choro de criança não é nada agradável e que às vezes as três choravam ao mesmo tempo – sinceramente, eu ficava apavorada. Muitas vezes eu chorei também. Chorei por me achar incapaz de impedir o choro, chorei por me sentir uma merda de mãe que não consegue identificar o motivo pelo qual chora sua filha, chorei porque simplesmente não sabia o que fazer. E muitas vezes, eu as abraçava e ficava lá, agarradinha, tentando entender o que acontecia. E eu acho que o nosso abraço era o antídoto contra o choro. Nosso carinho, não sei como nem porquê, fazia cessar o choro. Essa experiência merece estar no Livro das Mães. Ela vale pra tudo. Quando você não souber o que fazer para resolver um problema, acolha, abrace, fique agarradinha estudando, olhando e percebendo, respirando junto...a dificuldade pode não cessar logo, mas o seu gesto vai trazer a tranqüilidade necessária à solução das coisas.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Ajudem-me a completar a frase: "A GENTE VIRA CRIANÇA QUANDO......."

- ...reencontra os amigos da infância;
- ...passa uma tarde com os irmãos e os primos;
- ...come sorvete e se lambuza;
- ...acredita que o bicho-papão, dessa vez, vai pegar;
- ...toma banho de chuva e gosta;
- ...come brigadeiro;
- ...procura o colo da mãe ou do pai;
- ...vê os netos brincando;
- ...ri alto das coisas mais bobas;
- ...acredita em tudo o que falam para nós;
- ...briga com o melhor amigo por causa de bobagem;
- ...faz as pazes com o melhor amigo e não guarda raiva;
- .....

domingo, 2 de outubro de 2011

SEMENTE




Sinto um verde quente e escuro
Nos abismos da floresta
Útero que protege
Novos verdes delirantes
da natureza em festa

O verde se alastra
Rouba a cena
Dá sentido
A uma vida tão pequena
Incapaz de ousar.

Noutros tempos, noutras folhas,
A chuva batia afoita
E o canto que se ouvia
Era cantiga de ninar.
Mas nos tempos de agora
A chuva que bate lá fora
É como criança que chora
Com fome, sede e penar.

Meu olhar vazio e pouco
Se envolve num ballet louco
Perdido nos verdes barulhos
De um leve ressonar.
Então ergo as mãos ao alto
Tentando evitar um salto
Mas o destino incauto
Me empurra e faz desabar.

Caio emprenhada no solo
E abraçada às folhas mortas
Luto por nossas vidas
Prestes a germinar.