quarta-feira, 31 de agosto de 2011

AJUDE O LOCO A ESCAPAR DA PANELA

Há pouco tempo, lá no sítio, nasceram uns pintinhos lindos, como todos os pintinhos sabem ser. E foram crescendo, perdendo a penugem amarelinha e definindo suas cores. Logo, logo se destacava um franguinho branco de pernas bem compridas, meio marrentinho, que andava meio desconcertado por conta da altura e eu coloquei nele o nome de Loco Abreu em homenagem ao craque alvi-negro. Loco Abreu cresceu fazendo jus ao nome e hoje é o galo mais bonito do mosso galinheiro. Acontece que outros frangos também cresceram e viraram galos e, como todos sabemos, as nossas poucas galinhas não suportam tantos galos. As pobrezinhas fizeram uma passeata, uma manifestação, ameaçaram fazer greve se não diminuíssemos a quantidade de galos no galinheiro. Aí, começou o embate. Adorando um coq au vin, meu marido determinou a execução de uns galos. Eu me desesperei e decretei que poderia matar todos, menos o meu galo, o Loco Abreu. Assim tem sido. Quando o Botafogo perde ou empata, lá vão alguns galos para a panela. Se chegar o final do campeonato e formos campeões, a vida do Loco estará poupada para sempre, pelo menos não irá para a panela, morrerá de morte natural. Enquanto isso não acontece, torço para o Botafogo ganhar os jogos. Meu Loco Abreu, alheio a tudo, está resistindo bravamente. Conto com a torcida do Botafogo para que a vida do meu lindo galo seja poupada. Vamos ganhar! FOOOOOOOGO!

JORNAL O DIA - 31/08/2011

 
  

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

ALUGA-SE POR TEMPORADA


Tão bom ter um ouvido amigo disponível para nossos sonhos, alegrias e tristezas. Às vezes, nem precisa ser amigo, basta ser neutro e cumprir sua sina: escutar. Porque tem hora que a gente não precisa ser compreendido, não deseja ser apoiado ou contradito, basta que falemos. E como precisamos disso! Em contrapartida, cada vez mais precisamos falar e nos esquecemos de ouvir. Ninguém tem tempo para ouvir ninguém, estamos na era da manifestação. Todo mundo tem alguma coisa para dizer, para contradizer, para expor. Todo mundo, inclusive eu, aqui e agora, por exemplo, quer falar o que julga ser a descoberta do mundo e da roda. Mas poucos de nós se dispõe a ouvir, a maioria de nós até ameaça deixar o outro falar, mas na metade da frase já está pensando em outra coisa. O tempo é escasso, a necessidade de fazer várias coisas importantes, ou nem tanto, nos impõe um ritmo doido que interdita determinados comportamentos e muitos sentimentos. Por isso, não acho distante o dia em que veremos o anúncio de aluguel de orelhas por temporada, porque nem mesmo uma orelha de aluguel vai aguentar um contrato de longo prazo. Há de chegar o dia em que alugaremos espaços virtuais nos parlatórios sem assistência. A máxima "fala que eu te escuto" estará de vez ultrapassada. Falaremos para ninguém nos ouvir. Está próximo o dia. Falaremos por falar, numa compulsão louca, até que seja atrofiado de vez o aparelho auditivo por absoluta falta de necessidade e de uso. Enquanto isso não acontece, vamos aproveitar e botar em dia aqueles assuntos à toa, vamos conversar sério com as pessoas que ainda valorizam o intercâmbio de idéias e ideais, vamos botar a boca no mundo, galera!

domingo, 21 de agosto de 2011

FESTIVAL DA CACHAÇA - PARATY - Valorizando o que é nosso!

São quatro dias de exposição e degustação das cachaças produzidas na cidade cujo nome é sinônimo de cachaça; Paraty. À noite, diversas bandas embalam os apreciadores da branquinha, genuína bebida brasileira que deveria ser mais valorizada por nosso povo. Estrangeiro adora, mas ainda resta um grande preconceito no nosso próprio país, associando-se a bebida a classes sociais e econômicas mais baixas, demonstrando, igualmente, a discriminação contra uma cultura popular. É aquele velho (pré)conceito que coloca os consumidores de champagne e wisky num patamar socialmente superior aos apreciadores da cachaça. Está na hora disso acabar. Apreciar uma bebida não tem relação direta com os males que qualquer bebida alcoólica possa causar.
Há algum tempo, os produtores e amantes da cachaça vêm lutando para que seja instiuído o selo de Indicação de Procedência ou Indicação Geográfica - IG - a exemplo do que já ocorre na Europa, com grande êxito.
A Indicação Geográfica - IG - constitui um instituto jurídico, previsto na nossa Lei da Propriedade Industrial, de 1996, que visa reconhecer e proteger o nome geográfico de pais, região ou localidade, que identifique algum produto ou serviço típico. O Registro é justíssimo, resultado de uma atividade econômica primacial e emblemática na vida de um dos mais belos lugares do mundo, Paraty, Município Monumento Nacional, dono do mais harmonioso conjunto arquitetônico colonial do País. O Registro vem consagrar mais de quatrocentos anos de história de uma bebida que antes de se chamar "cachaça" foi chamada de "paraty". A Indicação de Procedência da Cachaça de Paraty irá distingui-la de outras cachaças, será, mais que uma impressão digital, uma carteira de identidade para o produto, proclamando a sua origem, o lugar onde ela é feita. A Cachaça de Paraty estará protegida das fraudes e aumentará o seu valor agregado. A ela será conferido um diferencial de mercado, em função das características e da cultura própria do seu local de origem, preservando-lhe as suas belíssimas particularidades. Irá, também, incentivar novos investimentos, elevando o padrão tecnológico dos engenhos, multiplicando os empregos e favorecendo o turismo. 
Eu apóio!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

NA PORTA DA ESCOLA

Na porta da escola

Mané, Cuzão e FDP estavam com a macaca. Eu não sei o nome correto deles, mas era assim que se tratavam os meninos que saíram da escola se empurrando, dando chutes uns nos outros e xingando um monte de palavrões.
O portão da escola despejava um monte de crianças para o mundo  e a maioria delas se dirigia ao ponto de ônibus mais próximo. O trio era o mais inflamado e as pessoas que aguardavam no ponto começaram a se entreolhar incomodados. Os garotos não se importavam com ninguém, zoavam todo mundo.
A coisa estava mais ou menos sob controle (deles) mas, de repente, um deles, acho que foi o FDP, que era bem maior que os demais, deu um chute na barriga do Mané. Mané rolou no chão com dor mas ninguém foi em seu socorro, nem os colegas da escola nem nós, que estávamos no ponto do ônibs. Apenas olhávamos.
Eu, lá no íntimo, fiquei com medo do FDP e pensei que, se me dirigisse a ele, ele poderia me dar um socão na boca e quebrar meus dentes. Fiquei quieta, impotente, enquanto Mané se recuperava. Fiquei com pena do garoto.
Foi então que o Cuzão falou para ele, tá vendo, Mané, tu provocou o cara a agora tomou! Hahahaha! Se fudeu! Mané se limitou a olhá-lo, levantou-se desajeitadamente e deu-lhe um cascudo. Cuzão, tu é um Cuzão, porque não me defendeu daquele FDP?
Nessas alturas, FDP se achava no pedestal, todo mundo olhava para ele de baixo para cima e ele era o cara! O ônibus chegou e ele declarou: não quero ninguém comigo, vou entrar sozinho. E foi. Ninguém sequer pensou em entrar no ônibus também, nem nós, que estávamos aguardando o coletivo.
O restante da garotada foi embora no ônibus seguinte e eu fiquei calada pensando nos garotos. Como deve ser complicado para a professora dar aula numa turma cheia de Manés, FDP e Cuzões! E em casa, como seria? Teriam mãe,pai, família? Como seriam aqueles meninos na intimidade? Violentos e cruéis como FDP; submissos e tímidos,  como Mané; covardes, como Cuzão? Sofridos e sós como os três?
Como as famílias tem se ocupado de seus filhos? Correndo o risco de ser chamada de arcaica, deslocada e outros adjetivos igualmente redutores, teimo em afirmar que as famílias precisam ser socorridas; há que se desenvolver políticas públicas de apoio aos núcleos familiares para se começar a pensar em educação.
Educação começa antes da escola. A escola não dá conta, e penso nem ser sua função específica, de incutir nesses meninos valores, hábitos e atitudes  que eles deveriam trazer “de berço”, como se dizia antigamente.
A quem cabe a responsabilidade por esta geração de Manés, Cuzões e FDP que está se desenvolvendo por aí? A porta da escola precisa ser vista como ligação entre dois espaços e não como uma barreira. Devemos pensar sobre esta questão. 

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

SÓ NOS RESTA O DESVIO

As letras são tão poucas pra gente esrever e dizer o que deseja. Aí, o negócio é escrever um monte de textos, que vão se acumulando em um monte de livros, que, por sua vez, vão se juntar a mais um tantão de livros de outras pessoas com a mesma dificuldade nossa, porque a língua restringe a nossa liberdade de expressão e aprisiona nosso pensamento, condicionando-nos a dizer de determinada forma um conteúdo que é água escorrendo entre os dedos, lavando o rosto, se impregnando pelo solo poroso...
Eu penso 'sol' e tenho que escrever três letras ridiculamente sobre uma folha de papel ou apertando teclas do computador. Isso é absurdamente redutor da realidade 'sol', mas é o que eu posso fazer. Triste, né?
O que acaba por acontecer é a gente promover uma suruba de letras para buscar uma maneira de manifestar o que a gente quer. Foi Roland Barthes que disse ser a língua uma ditadura por nos impor um jeito de escrever e falar, um exercício de poder. Ele continuava seu pensamento afirmando que a literatura era a única forma de nos libertarmos dessa submissão; a literatura seria "esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução".
Assim, estaremos sempre num purgatório, pois só seríamos livres fora da linguagem, embora só possamos existir dentro dela.
Amigos,só nos resta o desvio!

MULHERES QUE CORREM COM AS BARATAS - Dia do lançamento

terça-feira, 9 de agosto de 2011

HOJE É O LANÇAMENTO DO LIVRO MULHERES QUE CORREM COM AS BARATAS

Quem são essas mulheres que correm com as baratas?
Venha descobrir, mergulhe no universo deste livro e perceba o que há de inquietante nesta resposta.

domingo, 7 de agosto de 2011

SERIAM PARENTES???




O primeiro vive junto à natureza, sempre vigilante na Praia de Caieiras, em Fernando de Noronha.
O outro nasceu em Montpellier, França e hoje habita minha sala de estar.
O elo de ligação entre eles, sou eu, mas reparem como se parecem...o nariz, os espinhos...
Ambos são criações humanas, mas criaturas distintas em universos tão distantes...

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

OBRAS LITERÁRIAS COM ACESSO GRÁTIS NA INTERNET

Uma bela biblioteca digital, desenvolvida em software livre, mas que está prestes a ser desativada por falta de acessos. Imaginem um lugar onde você pode gratuitamente:
·Ver as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci ;

· escutar músicas em MP3 de alta qualidade;
· Ler obras de Machado de Assis Ou a Divina Comédia;
· ter acesso às melhores historinhas infantis e vídeos da TV ESCOLA
· e muito mais...
O Ministério da Educação disponibiliza tudo isso,basta acessar o site: http://www.dominiopublico.gov.br/
Só de literatura portuguesa são 732 obras!
Estamos em vias de perder tudo isso, pois vão desativar o projeto por desuso, já que o número de acesso é muito pequeno. Vamos tentar reverter esta situação, divulgando e incentivando amigos, parentes e conhecidos, a utilizarem essa fantástica ferramenta de disseminação da cultura e do gosto pela leitura. 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Há 40anos...


O ano era 1971, o local era o Engenho Novo e minha sala ficava no terceiro andar, à esquerda, naquela janelinha de quina. Minha turma era a Turma B e ocupávamos a sala 38. Um bando de meninas e meninos se conheceram e conviveram por 4 anos neste que se tornou um colégio de sonhos para cada um de nós, tenho certeza.
Crescíamos e logo, logo, os rostinhos de criança foram cedendo lugar a semblantes mais complexos, olhares mais curiosos, e sorrisos mais maliciosos. Nossos corpos também ganharam altura e estrutura mais forte. E nossas cabeças e corações....desandaram de vez...rssss
Hoje, 40 anos depois, tivemos a grata satisfação de poder nos reencontrar novamente. No fundo do olhar de cada adulto cinquentão, não foi difícil identificar aquele jeito de sorrir, um modo especial de falar, um trejeito do corpo ou simplesmente um modo peculiar de falar as coisas.
O ano é 2011, cada um veio de um ponto diferente do mapa para o nosso mundinho interior de pré-adolescentes, momento da vida que jamais se esquece.
Ah, e o nome do colégio...só poderia ser o Colégio Pedro II.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

MAIS UM TRECHO DO LIVRO "MULHERES QUE CORREM COM AS BARATAS"

"As arquibancadas se enchiam de homens e mulheres de olhares secos e bocas tristes. Ficavam lá sentados nas arquibancadas, sonhando por tabela, os perdidos na vida, os zumbis e dançarinos sem música, aqueles a quem doía imaginar, aqueles a quem a vida encaixotou impedindo movimentos até mesmo interiores. A entrada de crianças era permitida, mas nunca fora registrada a presença de nenhuma delas, por pura desnecessidade."
Trecho do conto "A Contadora de Sonhos"

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

SINAIS

Cada doido com sua mania, já dizia minha avó. Aliás, vovó dizia muitas coisas interessantes e, às vezes, espantosas e premonitórias. E, como quem não puxa aos seus é monstro, acho que herdei alguma coisa disso também.
Lembro-me de um dia calmo, sol quente e ar abafado. Eram as férias de verão, que passávamos na casa de vó Maria. Ela, sentada na varanda de casa, depois do almoço, vaticinou: “vai acontecer alguma coisa hoje; tá tudo quieto, nem as árvores se mexem”. Pra ser sincera, não me lembro do que aconteceu, mas aquela previsão me espantou e até hoje, quando vejo a natureza quieta, lembro da vovó e penso no que pode acontecer.
Eu também criei meus sinais, talvez como forma de resgate da sabedoria familiar, aquele tipo de conhecimento que se constrói de geração em geração e que ninguém mais sabe dizer como começou. Lá no sítio, quando vejo um coelhinho, grito logo: “vem coisa boa aí”. Borboleta azul quer dizer que chegará uma boa notícia, assim como a primeira floração do manacá, com aquelas florezinhas roxas e brancas super perfumadas, são indício de casamento na família.
Esse é o lado bom dos presságios, o lado que eu gosto, porque prever coisa triste não é comigo não. Aliás, também não sei dizer o que acontece depois que vejo coelhinho, borboleta ou manacá florindo, mas isso não importa muito, o que me move e me deixa contente é a possibilidade de vir a acontecer uma coisa boa. Só isso já é suficiente para alegrar o dia.
Mas hoje cedo eu saí para o pilates e dei de cara com o caveirão. Não sei o que isso pode anunciar, mas o fato é que estou com a imagem na minha cabeça até agora. Parecia que o Darth Vader queria falar comigo e eu não quero papo com esse cara. Fiz pilates como ninguém, aplicadíssima, pensando em fortalecer meus músculos para o grande embate, caso o encontrasse novamente. Saí pronta pra enfrentar tudo, mas até agora, o dia se apresenta tranqüilo e, pra falar a verdade, agora observo que está tranqüilo demais...tá tudo quieto...nem as árvores se mexem...