quarta-feira, 15 de junho de 2011

O FANTASMA SOU EU

Todos os dias arrasto o resto de véu
Que teima em encobrir meus ossos já gastos,
Minhas órbitas vazias de encanto
Mas que um dia já encantaram o mundo,
A mandíbula aberta ao grito eterno.

E ainda que o sol aqueça a carcaça que um dia sorriu,
E ainda que o ar impregnado de brincadeiras e risos de crianças
Dê voltas pelos orifícios do tule branco que emoldura um rosto que já foi,
E ainda que ninguém mais em torno de mim possa testemunhar qualquer dor
E ainda que eu não mais consiga sentir esta dor
E ainda e ainda e ainda


Eu me largo e me permito algumas aparições.
Vago nas lembranças mortas nas noites de breu
Olho no espelho e grito
Pois, para meu espanto,
O meu fantasma sou eu.

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