sábado, 19 de novembro de 2011

O que acontece quando um monte de amigas se reencontra? Veja uma possibilidade em ELA CHEGOU DE SALTO ALTO


 
Ela chegou de salto alto, cheia de si e foi logo avisando: hoje eu estou danada, bota uma cerveja aqui! Há tempos as amigas não se encontravam, todas assim, morrendo de saudades mas nem tão cheias de novidades. Era bom reunir a turma, uma viagem no tempo. Quando juntas, todas se nivelavam em idade – a primeira infância.
Não era porque o motivo da reunião fosse os sessenta anos de uma delas, que elas iriam nivelar por cima. Nunquinha. Conforme a própria aniversariante falara, a maioria delas já tinha mais tempo passado do que futuro, então, de acordo com os astros, a fase que se anuncia é prenúncio do carpe diem mais doido da história.
Ela chegou de mini-saia, uma coisa que há muito nenhuma delas usava, exceto as duas mais novinhas que teimavam em se incluir no grupo e, diga-se de passagem, eram muito bem vindas. As outras trajavam roupas de acordo com a idade. As mais novinhas estavam de jeans, camiseta e juventude, não precisariam de maquiagem, cordões, pulseiras, óculos coloridos, roupas de grife, nada desses supérfluos que servem para disfarçar pneuzinhos, rugas, olheiras e chamar a atenção para outros pontos do corpo e do rosto.
Ela estava com uma blusa vermelha de cetim, sem mangas e com um monte de babados no pescoço. Fazia frio, mas ela frizava a todo momento: tô com um calor da porra, liga esse ar condicionado! Tá com defeito, o ar? Traz outra cerveja, mas veja se tem uma mais gelada! Logo, a aniversariante já comentava com todos: essa aí só pode ser a periguete da terceira idade, nunca sente frio....hahahaha
E a música começou. Um grupo de quatro rapazes que tocavam samba. Todas dançando, ê ô ê ô... e a periguete da terceira idade dava seu show particular, rebolava, ia até o chão, deixava tudo à mostra, paquerava os rapazes da banda, que morriam de rir, nessa altura do campeonato. Uma das amigas comentou que os rapazes eram muito novinhos, no que a periguete da terceira idade, revoltadíssima, soltou a frase: de velha já chega eu, só quero agora é carne nova...mas a noite não era para isso, os prazeres da carne não foram acionados.
Era para ser uma noite comemorativa. E foi.
Conforme o tempo passava e as cervejas eram consumidas, começaram a pedir músicas mais antigas, sambas enredos de carnavais passados e felizes e dançavam sem parar. Lá pelas tantas, a aniversariante queria terminar a festa, cantar os parabéns e ir embora. Ela sempre dormira cedo e, nas festas alheias, era sempre a primeira e sentir sono. Mas as amigas não concordavam com a idéia. Ela era a anfitriã e, como tal, seria a última a deixar o recinto. A periguete declarou: só saio de manhã. As outras se entreolharam preocupadas e resolveram optar por um meio termo. Vamos cantar os parabéns e depois a gente vê como fica.
Foi aí que tiveram a idéia de não deixar a aniversariante esmorecer e, uma após a outra, tiravam a aniversariante para dançar. Ela estava com os pés doendo e resolveu tirar os sapatos, trocando-os por uma sapatilha rasteirinha. Foi-se o glamour, para que a alegria pudesse predominar.
As outras dançavam, bebiam e se revezavam no banheiro, porque cerveja...sabe como é, né?
O marido de uma das amigas, que estava sentado do lado de fora do barzinho, com a desculpa de que era fumante, resolveu ir embora. Então, deu-se o embate.  A esposa disse que JAMAIS DEIXARIA A AMIGA SOZINHA, ELA, QUE SEMPRE ESTIVERA AO SEU LADO NOS MOMENTOS MAIS DIFÍCEIS....foi quase um discurso e o marido cedeu, quase chorando de emoção, pois não sabia que a esposa falava tão bonito!
E mais cerveja e música, muita música. Foi aí que uma das amigas resolveu mostrar seus dotes de cantora, sacou o microfone das mãos do cantor e quase que não largou mais. Cantava qualquer coisa, desafinava pra caramba, mas nada disso importava, o importante é que exercia sua liberdade de cantar e as amigas batiam palmas, pediam bis e riam todas juntas.
Aí veio o parabéns e quase ninguém comeu o bolo porque, estando todas de dieta, optaram pela cerveja e o bolo ficou em cima da mesa. Uma das amigas fez o favor de guardá-lo. Teve discurso, emoção, uhu! E todas estavam felizes por estarem compartilhando aquele momento. A aniversariante se gabava: agora estou sexy....sexagenária!!! Como é bom fazer piada sobre nós mesmas!
Mas aí, o cansaço já estava tomando conta de todas (da maioria, pelo menos). Uma delas lembrou que o conjunto ia parar de tocar e mais uma outra falou que era melhor pagarem a conta. Todas concordavam, menos a periguete da terceira idade, que perdia a pose, mas não descia do salto, para risadagem geral.
Até onde me lembro, entrei num táxi e cheguei em casa, tendo deixado outras amigas antes. Não sei se me despedi de todo mundo. Minha amnésia alcoólica é f......Mas jamais esquecerei esta noite e o nosso reencontro. Ao nos reencontrarmos, nos reencontramos também com nossas melhores fases e com as graças que cada uma tem; nos reencontramos com o tempo e com as peças que ele nos prega. E provamos, para os fofoqueiros de plantão, que mulher é amiga de mulher; que mulher sabe se divertir e que mulher, quando se junta, nem sempre fala de criança, de casa e de homem, porque tem outras coisas muito interessantes para se fazer na vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário