quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

O MONUMENTO E A INDIGÊNCIA

 

Na praça vazia, dois mundos se contrapõem. 

Dois mundos se complementam.

 

 Sentada no chão, entre restos,

Conhecida andarilha deixou filhos, um amor torto e lançou-se ao mundo.

Acompanhada pelo álcool, pensa na vida que teve.

Quem passa apressado contempla a transparência

Daquela escultura que ainda tem veias e sonhos

Um macabro monumento ao não-humano.

 

Do outro lado, em pedestal destacado,

 um busto valioso de alguém sem identidade, inerte na sua eternidade de bronze,

celebra a vida desimportante sem significado para os que passam por ali.

Um monumento à indigência.

 

Mas existe a praça, síntese da vida.

Na praça vazia , dois mundos se contrapõem.

Dois mundos se complementam.

E ninguém se vê representado

Em nenhuma das duas estátuas.

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