Cheguei à cidade em dia triste.
Prenúncio do que viria a seguir
ou lamento final de uma saga de fome
e intolerância?
Minha cidade menina
Apresentava-se a mim como anciã
abandonada
Sem que eu tivesse tido tempo
De usufruir sua juventude de mulher
alegre.
Não havia como voltar – para onde?
A vida inteira planejando o retorno
Para um lugar que só existiria
Em minha mente e em meu coração.
Minha cidade não era mais a minha
cidade.
Estuprada e maltratada,
Desrespeitada e calada,
Minha cidade chorava um choro contido
De quem se conformou a prender as
lágrimas e
A sufocar qualquer manifestação da
alma.
Minha cidade chorava
Por eu ter deixado que tudo
acontecesse
Sem mover um dedo, sem dar um passo,
sem gritar um não.
Encostei a cabeça na vidraça e também
chorei
Porque naquele instante entendi
Que, com minha distância e
indiferença ao real,
também fui violadora da minha
cidade.
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