sábado, 9 de janeiro de 2021

RETORNO A LUGAR NENHUM

 

Cheguei à cidade em dia triste.

Prenúncio do que viria a seguir

ou lamento final de uma saga de fome e intolerância?

Minha cidade menina

Apresentava-se a mim como anciã abandonada

Sem que eu tivesse tido tempo

De usufruir sua juventude de mulher alegre.

Não havia como voltar – para onde?

A vida inteira planejando o retorno

Para um lugar que só existiria

Em minha mente e em meu coração.

Minha cidade não era mais a minha cidade.

Estuprada e maltratada,

Desrespeitada e calada,

Minha cidade chorava um choro contido

De quem se conformou a prender as lágrimas e

A sufocar qualquer manifestação da alma.

Minha cidade chorava

Por eu ter deixado que tudo acontecesse

Sem mover um dedo, sem dar um passo, sem gritar um não.

Encostei a cabeça na vidraça e também chorei

Porque naquele instante entendi

Que, com minha distância e indiferença ao real,

 

 também fui violadora da minha cidade.

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