Sinto um verde quente e escuro
Nos abismos da floresta
Útero que protege
Novos verdes delirantes
da natureza em festa
O verde se alastra
Rouba a cena
Dá sentido
A uma vida tão pequena
Incapaz de ousar.
Noutros tempos, noutras folhas,
A chuva batia afoita
E o canto que se ouvia
Era cantiga de ninar.
Mas nos tempos de agora
A chuva que bate lá fora
É como criança que chora
Com fome, sede e penar.
Meu olhar vazio e pouco
Se envolve num ballet louco
Perdido nos verdes barulhos
De um leve ressonar.
Então ergo as mãos ao alto
Tentando evitar um salto
Mas o destino incauto
Me empurra e faz desabar.
Caio emprenhada no solo
E abraçada às folhas mortas
Luto por nossas vidas
Prestes a germinar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário