Ela chegou pisando leve
de tanta ansiedade que trazia nas várias camadas de pele, uma pele macia que se
eriçava ao toque cheiroso da brisa do mar. Pensamentos infinitos, sentimentos
híbridos e sensações desconhecidas arrefeciam a estranha mania que tinha de
manter os pés na realidade. Ainda não descobrira que a vida só acontece dentro
do coração, da mente e do corpo. O resto é apenas exterior, é paisagem que
emoldura o viver.
Sentada na areia branca
e fina, observava o horizonte enquanto a luz do dia se dissipava a cada piscar
de olhos. Deu-se conta da existência quando o escuro se fez mais completo e
conseguiu ver as estrelas que lhes piscavam os olhos, buscando cumplicidade.
Era noite, então. E ela
fechou os olhos e se deixou levar pelo barulho molhado das ondas que ousavam
respingar em seus pés. Súbito, uma faísca rompe a linha do horizonte e, mas
rápido que seu pensamento, surge o sol a queimar-lhe as retinas. Uma luz de absoluta
vida entrando por todos os poros, com cheiro de existência e sonho, a chamava
de forma definitiva. Deixou-se abduzir e foi então que nasceu.
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