quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

2011: O ANO QUE NÃO EXISTIU

Agora que estamos definitivamente em 2012, ouso afirmar que 2011 não existiu. Quem viu 2011 passar por aí? Porque eu não vi nem cheiro nem sombra de um ano que simplesmente não teve tempo de acontecer. Já tivemos 1968, o ano que não terminou; 1958, o ano que não devia terminar e, agora, a mais nova modalidade: 2011, o ano inexistente.
Começou inibido, sombrio, com catástrofes, enchentes e tristezas. Quando menos se esperava, vieram as férias de junho, férias de que se eu ainda nem tinha conseguido trabalhar direito?
Uma prova de que 2011 não existiu foi a inexistência de seu próprio réveillon. Não houve uma contagem regressiva e, embora estivesse na França, a terra do champagne, não percebi nenhum espocar de rolha rumo ao futuro. Uns e outros estavam perdidos. Não vi nos olhos dos outros a alegria dos tempos vindouros, nem nos lábios de uns os questionamentos e as conjecturas de praxe sobre o tempo, os anos, planos e necessidades mais urgentes. Tampouco senti em meu peito o aperto da ansiedade pelo ano que chega nem em meus olhos as lágrimas pelo ano que se foi. Meus braços não abraçaram ninguém, não desejei feliz ano novo a quem quer que seja.
Como testemunha de defesa de minha tese, chamo Mademoiselle Margaux, que vaticinou já no mês de julho: “Não farei aniversário este ano. Ainda não tem um  ano que festejei meus 58 anos e não será em 2011 que festejarei os 59. O tempo está doido, o bicho está solto e não acho que seja saudável fingirmos que o tempo está andando na velocidade certa. Não está. Alguma coisa está acontecendo. Alguma coisa está errada. Está passando muito rápido. A roda está rodando sem governo, mas eu me nego a assinar esse cheque em branco. Não farei aniversário este ano. Está tudo muito esquisito!” Respeito muito as observações de Mlle. Margaux, quase uma bruxa na arte de prever as coisas.
Outra opinião muito balizada sobre estas questões nem filosóficas, nem religiosas, um tanto ou quanto generalistas, é a opinião da Dona Cristofa. Na sua quietude, do alto dos seus 98 anos, ela observa e, quando fala, fala com a sabedoria inerente às pessoas santas. Dona Cristofa, a partir de agosto, começou a se referir às atividades próximas como quem se refere a um futuro de médio prazo. Assim, passou a planejar fazer as compras do supermercado no ano que vem (e não na semana que vem), escovar os dentes daqui a um ano (e não um instante), comprar as fantasias de carnaval (e não os enfeites para o Natal) e por aí a fora. Muito sintomático, em se tratando de Dona Cristofa. Fosse outra pessoa, poderiam dizer que era confusão por causa da idade, mas não com ela. Não havia confusão em sua cabeça. O que estava verdadeiramente confuso era o tempo. Correndo demais.
Na família, ninguém estava grávido. Este era um outro sinal claríssimo de que 2011 não estava existindo, porque em todo ano que se preza, em nossa família, nasce uma criança e outra já está encomendada. Não houve isso em 2011, logo, 2011 não é um ano que se preze.
Há algumas vantagens em pularmos 2011. Estamos todos mais novos um ano. Somos todos crianças imaginando que, se a terra é redonda, os japoneses estão de cabeça para baixo e imaginando que, se uma coisa não é boa, a gente pode fazer de conta que ela não existe e passar adiante. Porque a fila anda, outros anos estão doidinhos para acontecer e a nossa imaginação é apenas uma criança com muito tempo pela frente para dar o que falar.

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