domingo, 1 de julho de 2012

MEU NOME É CAROLINA



Meu nome é Carolina. Eu detesto o meu nome. Não sei o que se passou no cérebro dos meus pais quando decidiram me nomear desse jeito. Eu e mais trezentos e setenta e oito mil garotas do Brasil nascemos com essa marca: CAROLINA. Odeio coisa comum, gosto do diferente, do excêntrico.
Meu Jesuzinho Cristinho, pra ser bem carola e fazer jus ao meu nome, me diga onde andou a criatividade do povo daquela década? Só pode ter sido alguma novela, é isso, uma personagem de novela, talvez interpretada pela Regina Duarte, fez tanto sucesso que os pais tiveram que ceder aos apelos das mães, antes que o casal se separasse, e as crianças do sexo feminino foram batizadas com o nome de Carolina.
Mas isso é só um pormenor que passou por minha mente criativa e curiosa, tão curiosa que decidi me lançar a fazer uma pesquisa sobre a origem do meu nome. Pode não parecer, mas adoro essa coisa de pesquisa, menos do Ibope que, aliás, nunca me indagou nada. Pois bem, resolvi averiguar, já que minha mãe e meu pai não me dão nenhuma explicação razoável. Achar um nome “bonitinho” não pode ser suficiente para dar esse nome à própria filha.
Comecei pesquisando nas revistas que tem lá em casa e depois fui ampliando, pois tinha uma necessidade vital de descobrir mais e mais sobre o assunto. Queria fazer um mapeamento da situação. Então, fui pra biblioteca da minha escola, mas teve uma infiltração desprezível lá e eu só consegui passar os olhos em alguns livros, os mais fininhos, é claro, porque os mais grossos me dão um sono nefasto, além de estarem com cheiro de mofo e com as páginas rasgando. No segundo dia dessa tarefa hercúlea, veio a luz: o Google! Foi o que me salvou.
Nas minhas investigações, descobri coisas muito importantes, como uma música daquele coroa, o Chico Buarque, cujo nome era Carolina e que falava de uma coitadinha que tinha os olhos tristes e que devia ter o cotovelo todo escuro de tanto ficar na janela...acho que ela esperava a banda passar, não me lembro direito da história, só sei que o tempo passou na janela e Carolina não viu. Ah, e a banda também passou e, ao contrário do que ela pensava, a fanfarra não tocava pra ela. Agora, me digam, porque eu colocaria na minha filha um nome tão marcado para sofrer?
Uma das coisas bem legais dessa minha nova fase de vida, a fase de pesquisadora, é que descobri um monte de recursos de ajuda no computador. Você pode escrever qualquer palavra; aí, você coloca o mouse em cima do vocábulo (que você já repetiu mil vezes ou que, simplesmente, quer substituir por uma palavra mais chique) e clica com o lado direito: milagre! Aparece uma montoeira de sinônimos! Resolvi escrever todos com aquela letra inclinadinha, chamada itálica. Com isso, estou escrevendo bem pra burro, pareço até a minha tia que fez Mestrado e que fala diferente de todo mundo lá de casa, lá do bairro...quiçá do Brasil!
Navegando pelo Google, encontrei uma outra Carolina, amada pelo Machado de Assis, o bruxo do Cosme Velho. Eu pensei que ele fosse escritor, mas tá lá no Wikipédia: bruxo. Não deu tempo de eu ler tudo, mas fiquei com a nítida impressão de que, ou ela era uma bruxa também ou era um tipo assim de musa ao contrário. Digo isso, porque acho que musa é uma mulher que inspira o cara e os versos que ele escreveu pra ela eram muito, como diria, esquisitos, moribundos, ah, ininteligíveis. Imagina, fazer versos pra mulher morta! O tal do Machado ia declamar versos na cova da falecida, ora, me poupem! Só podia ser bruxaria mesmo! “Querida, ao pé do leito derradeiro/Em que descansas dessa longa vida,/Aqui venho e virei, pobre querida...” E seria essa mulher que teria inspirado meus queridos genitores? Inacreditável!
A gente podia trocar de nome com facilidade. Também já  pesquisei muito sobre o assunto e vi lá no Google que a filha da Baby Consuelo se chamava Riroca e alterou sua denominação para...Sarah Sheeva. Eu preferiria Riroca, tem mais sonoridade, mais humor, rimas mais interessantes, mas, enfim, o que importa é que ela trocou o nome. Eu só queria entender. Porque um nome único e com as qualidade acima mencionadas pode ser trocado por um outro, igualmente único, mas esquisito pra caramba etc e tal e eu não posso trocar o meu nome comum, que só tem história triste por um outro mais condizente com a minha personalidade?
Conta a história que, na América do Norte, terra de gente inteligente e rica, tem um lugar chamado Carolina do Sul e outro chamado Carolina do Norte. Fui ao Google Maps e vi, existe mesmo. O Wikipédia diz que, anteriormente, era tudo uma coisa só: uma colônia chamada Carolina, em homenagem ao Rei Carlos II, da Inglaterra. Curioso é que, se fosse eu, iria homenagear um cara poderoso da América do Norte, fala sério! Da Inglaterra só conheço mesmo é o Harry, o único príncipe disponível no mundo.
Fico imaginando, o dia em que nasci, o corredor do hospital com aquelas plaquinhas com os nomes dos bebês: Carolina-carolina-carolina-carolina...deve ter sido hilário. E fico arquitetando que nome vou colocar na minha filha, quando eu tiver uma. E, pior, fico idealizando minha lápide: “Aqui jazz Carolina”..vai ter tanto jazz Carolina no cemitério que aquilo vai virar um show!
Acho que vou preferir ser cremada.


Este texto fez parte da Exposição Caneta, Lente e Pincel - Centro Cultural Justiça Federal - RJ Abr/Mai 2012

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