segunda-feira, 2 de julho de 2012

ZORBA, O CARIOCA


Tinha ódio daquilo, ódio! Toda vez que se apresentava, “muito prazer, Zorba”, vinha logo a pergunta: o grego? “Não, o carioca.” Tinha o nome do pai, quer dizer, tinha o nome que a mãe pensava ser o nome do pai.
A mãe não se lembrava direito do rosto do camarada. Muitos clientes, todos parecidos, porque homem é tudo igual, enfim, mas sabia direitinho que um deles tinha esquecido a cueca no seu quartinho. E na cueca estava escrito o seu nome: ZORBA. Na época, ela era mesmo muito ignorante e achava que o marmanjo devia ter uma mãe zelosa que escrevia o nome dele nas roupas de baixo para que ele não as perdesse, para que não se misturasse às outras roupas, como os alunos do colégio interno... coitada dela e coitado de mim, que tenho que carregar esse nome pela vida a fora. E o pior, é que o pai devia ser um carioca daqueles que foram pro interior para brincar de profissional num desses projetos tão interessantes dos anos 70.
Pelo que a mãe contava, a cidade onde morava ficava em lugar nenhum, nem tinha no mapa, mas era bonita de chorar! Tinha uma praia de areia branca, pescadores, catadores de coco e uma pobreza desgraçada.
Família grande, muito filho pra criar, o pai dela, meu avô, aquele filho da puta, inaugurou todas as filhas e colocou todas elas pra arrumar um dinheirinho pra ajudar na despesa da casa. Algumas, as mais velhas, ele conseguiu vender. A primeira casou com um caminhoneiro, a segunda foi ser amásia de um político da região e as que sobraram, ele colocou na vida. O velho não fez filho homem. Acho que, por raiva, virou cafetão das próprias filhas.
Minha mãe era a caçula e, na época do desbunde, era bem mocinha, corpo rijo, coxas grossas, cabelos compridos e dois olhos negros enormes que conquistavam todos os caras do vilarejo e os visitantes também. 
Um dia, apareceu um sujeito do Rio de Janeiro que ela gostou muito. Era cliente assíduo, mas ela começou a dar pra ele escondido do meu avô porque gostou do cachorroe foi esse que deixou a cueca no quartinho de minha mãe no dia em que meu avô descobriu o que vinha acontecendo há algum tempo.
Minha mãe tomou uma surra, o carioca fugiu da vila e tudo voltou a ser como sempre. Mas aí minha mãe começou a enjoar, desmaiar e o bucho se pôs a crescer. Foi então que meu avô decretou sua expulsão de casa, “pra não envergonhar a família”. Pode uma desgraça dessa ter feito isso com minha mãe? Aquilo não era gente, meu avô era um troço, uma coisa, sei lá o que.
Ela juntou as coisinhas dela e, de carona em carona, com a cueca do meu pai na bolsa, acabou chegando ao Rio de Janeiro, onde eu nasci, ali pras bandas da Praça da Bandeira. Ela morreu quando eu ainda nem “fazia cosquinha”, segundo as amigas dela, que me criaram e que me ensinaram a me virar na vida protegendo a elas e as outras meninas que foram chegando de todo canto do país.
Hoje sou um cara de respeito, que soube aproveitar a experiência e expandiu os negócios da família. Herdei o nome do meu pai, tomo conta das moças que se dedicam ao mesmo ofício de minha mãe e tenho a mesma profissão de meu avô. Um sucesso!

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