Meus pés repousados no encosto do sofá
me dão conta de que envelheci.
Eles me mostram uma pele clara e cinzenta
como os caminhos por onde os tenho levado a pisar.
Esses pés trazem as curvas da minha vida
inscritas em pequenas varizes
que me sobem pelas pernas.
Minhas pernas cansadas
que não se abrem mais para o amor,
para os grandes saltos.
Sempre me intrigou
o fato de quase todo velho usar meias.
Descubro agora
que as meias dos velhos
são esconderijos de angústias
e lembranças de um tempo que já foi
Ah! Os velhos descalços, como são felizes!
Os velhos sem meias
sentem o gozo da vida
pisando a terra sempre fértil.
Os velhos sem meias
têm o sol nos olhos
e contam histórias da vida vivida
e da vida sonhada sob a luz da lua.
Sem meias palavras.
Meus pés assim dispostos,
lado a lado sobre o sofá,
me dão conta de dois caminhos a seguir:
um, para fora do muro;
outro, para dentro das meias.
Meus pés assim paralelos,
me indicam que é hora ainda,
de justificar cada ruga
e vibrar com a história de cada uma delas.
É tempo de decidir:
andar com os pés interiores,
que nunca me deixarão parada no meio do caminho;
ou aguardar, desesperadamente,
que meus pobres pés paralelos
sejam finalmente cobertos pela terra fértil
por onde todos caminham.
Menos eu.
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