terça-feira, 5 de julho de 2011

RIO DE JANEIRO: CAMPO MINADO

O ônibus parou no sinal de trânsito e fiquei olhando pela janela. Vi dois pés pousados sobre sandálias de uns dez metros de salto. A sandália era verde e tinha umas tirinhas amarradas no tornozelo. As unhas do pé estavam pintadas de vermelho e eram longas, com a beiradinha pintada de branco. Uma coisa singular. Fui elevando a vista e vi umas pernas roliças apertadas numa calça de lycra com estampa de girafa, nova moda da estação, logo pensei. Não pude ver da cintura para cima, pois o ônibus estava cheio e a parte de cima do corpo da pessoa estava fora do meu ângulo de visão.  
O look era contraditório. O verde contrastava com o vermelho. A pele de girafa contrastava com as pernas gordinhas e curtas que, subitamente, começaram a se movimentar para atravessar a rua. Foi quando se ouviu a explosão. Não sei de onde veio uma onde de fúria que sacudiu o ônibus. Se eu estivesse em Angola, pensaria logo se tratar de uma mina. Se eu estivesse no Chile, pensaria no vulcão. Mas estava no Rio de Janeiro, na cidade maravilhosa, e pensei, então, em guerra do tráfico.
Pude observar, no meio do burburinho, um pé da sandália verde voando e um monte de gente pisoteando a girafa que estava, agora, estrebuchando no chão...o ônibus estava em rebuliço e só se ouvia o povo gritando desesperado “fogo!” , “socorro!”, “abre a porta, motorista!” Mas o motorista não abriu a porta e arrancou com o coletivo, deixando a girafa no chão e mais um bueiro do Rio de Janeiro explodido...

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