quinta-feira, 18 de agosto de 2011

NA PORTA DA ESCOLA

Na porta da escola

Mané, Cuzão e FDP estavam com a macaca. Eu não sei o nome correto deles, mas era assim que se tratavam os meninos que saíram da escola se empurrando, dando chutes uns nos outros e xingando um monte de palavrões.
O portão da escola despejava um monte de crianças para o mundo  e a maioria delas se dirigia ao ponto de ônibus mais próximo. O trio era o mais inflamado e as pessoas que aguardavam no ponto começaram a se entreolhar incomodados. Os garotos não se importavam com ninguém, zoavam todo mundo.
A coisa estava mais ou menos sob controle (deles) mas, de repente, um deles, acho que foi o FDP, que era bem maior que os demais, deu um chute na barriga do Mané. Mané rolou no chão com dor mas ninguém foi em seu socorro, nem os colegas da escola nem nós, que estávamos no ponto do ônibs. Apenas olhávamos.
Eu, lá no íntimo, fiquei com medo do FDP e pensei que, se me dirigisse a ele, ele poderia me dar um socão na boca e quebrar meus dentes. Fiquei quieta, impotente, enquanto Mané se recuperava. Fiquei com pena do garoto.
Foi então que o Cuzão falou para ele, tá vendo, Mané, tu provocou o cara a agora tomou! Hahahaha! Se fudeu! Mané se limitou a olhá-lo, levantou-se desajeitadamente e deu-lhe um cascudo. Cuzão, tu é um Cuzão, porque não me defendeu daquele FDP?
Nessas alturas, FDP se achava no pedestal, todo mundo olhava para ele de baixo para cima e ele era o cara! O ônibus chegou e ele declarou: não quero ninguém comigo, vou entrar sozinho. E foi. Ninguém sequer pensou em entrar no ônibus também, nem nós, que estávamos aguardando o coletivo.
O restante da garotada foi embora no ônibus seguinte e eu fiquei calada pensando nos garotos. Como deve ser complicado para a professora dar aula numa turma cheia de Manés, FDP e Cuzões! E em casa, como seria? Teriam mãe,pai, família? Como seriam aqueles meninos na intimidade? Violentos e cruéis como FDP; submissos e tímidos,  como Mané; covardes, como Cuzão? Sofridos e sós como os três?
Como as famílias tem se ocupado de seus filhos? Correndo o risco de ser chamada de arcaica, deslocada e outros adjetivos igualmente redutores, teimo em afirmar que as famílias precisam ser socorridas; há que se desenvolver políticas públicas de apoio aos núcleos familiares para se começar a pensar em educação.
Educação começa antes da escola. A escola não dá conta, e penso nem ser sua função específica, de incutir nesses meninos valores, hábitos e atitudes  que eles deveriam trazer “de berço”, como se dizia antigamente.
A quem cabe a responsabilidade por esta geração de Manés, Cuzões e FDP que está se desenvolvendo por aí? A porta da escola precisa ser vista como ligação entre dois espaços e não como uma barreira. Devemos pensar sobre esta questão. 

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