segunda-feira, 14 de maio de 2012

FRATURA EXPOSTA



Estou só e me irmano
à legião de pessoas que se sentem,
nesse exato instante,
perdidas como eu.
É fácil bater a porta,
difícil é conviver com o silêncio interior
do apartamento, da consciência, do coração.
Fácil é fazer a mala.
Difícil é descobrir as roupas
que ficaram secando ao sol no varal improvisado de nossa janela.
Nossa vida teria sido uma improvisação
que nunca chegou a se realizar?
Ou se materializou dessa forma tosca
e não percebi a hora do ponto final?
Parla! Diria eu diante da situação, mas você não reagiria.
Como sempre,
Sua preferência recai
Sobre a ausência de palavras
para definir a ausência de sentido
em continuarmos a compartilhar a cama, a mesa, o varal de roupas.
Fácil é virar a esquina e se apaixonar.
Difícil é ser o que fica na rua parado,
sem coragem de ir atrás, como o cão que vê o dono sair
e opta por ficar sentado, quieto, sofrendo, por medo de ser escorraçado.
O interior do quarto não diz muito de nós dois.
O que se expõe agora,
da mesma forma acintosa como os beijos de antigamente,
é tua roupa enforcada no varal e abandonada, sol a sol, por horas, dias, meses.
Um cadáver a quem nem mesmo os abutres de plantão ousam bicar.
O tempo, a chuva, o frio e o calor darão conta dessa chaga.
Balança ao vento
uma fratura exposta aos olhos de quem já presenciou tantos carinhos,
uma solidão imposta a quem já compartilhou tantos caminhos,
uma falta de vontade de viver.

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