segunda-feira, 28 de maio de 2012

Texto de Sergio Moreira para a Oficina Literária CCJF


Oficina Literária CCJF

Mensagem na garrafa:




Estou a procura de um amor que ame a natureza e deteste o trânsito das grandes cidades. Que esse amor queira viver comigo numa ilha deserta, para o resto de sua vida fazendo amor e tomando água de coco.
Favor mandar a resposta pela garrafa para: solitário da ilha”
 



   


Meu texto-resposta:

São 12h30min, Suzana está no final de sua caminhada diária, ou melhor, quase diária, pelo calçadão da Praia de Icaraí.
Enquanto caminha, pensa que já passou da hora de terminar o seu luto, mas imediatamente afirma, para si mesma, não conseguir.
Suzana foi casada por cinco anos, Claudio seu maridamor - como ela o chamava - morreu, de repente, num acidente de carro. Já se passaram três anos e Suzana sente a sua falta, na mesma intensidade de sempre.
Enquanto caminha, lembra, chora, ri, agradece, revolta-se, chora, ri do que viveu, e hoje, pela primeira vez, ri de si mesma; num misto de espanto e alegria, interrompe a caminhada no calçadão e vai até a beira da praia.
Resolve molhar seus pés, mas não sem antes se lembrar da poluição da Baía de Guanabara.
Caminha, bem lentamente, sentindo a água fria; olha pro Rio, pensa no Claudio, olha pros prédios, olha pro MAC, pensa numa reunião importante que terá amanha, olha pro mar escuro e vê brilhando uma garrafa boiando, mas uma vez lembra da poluição mas decide entra no mar, água pela cintura, e pega a garrafa.
Feliz como Suzana-Menina que ouvia estórias de garrafas contatas pelo seu avo paterno.
Abre a garrafa. E lê a mensagem:

 
“Estou a procura de um amor que ame a natureza e deteste o trânsito das grandes cidades. Que esse amor queira viver comigo numa ilha deserta, para o resto de sua vida fazendo amor e tomando água de coco.
Favor mandar a resposta pela garrafa para: solitário da ilha”


Decepciona-se com o que lê, logo ela uma mulher urbana, que ama Nova York, não suporta insetos - tem na sua mesinha de cabeceira um frasco de SPB Citronela - ama gente, festas e uma roda de samba.
Pega a mensagem, coloca de volta na garrafa e joga no mar, bem longe.
Pensa em Claudio com uma alegria imensa, a mesma alegria de quando estavam numa roda de samba.
Volta pra casa e resolve aceitar o convite que seu vizinho Paulo a fez - pela manhã quando ela saía para ao trabalho - para irem sambar na Lapa.

Sergio Moreira.

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