Oficina Literária CCJF
Mensagem na garrafa:
“Estou a procura de
um amor que ame a natureza e deteste o trânsito das grandes cidades. Que esse
amor queira viver comigo numa ilha deserta, para o resto de sua vida fazendo
amor e tomando água de coco.
Favor mandar a
resposta pela garrafa para: solitário da ilha”
Meu texto-resposta:
São 12h30min, Suzana está no final de sua caminhada diária,
ou melhor, quase diária, pelo calçadão da Praia de Icaraí.
Enquanto caminha, pensa que já passou da hora de terminar o
seu luto, mas imediatamente afirma, para si mesma, não conseguir.
Suzana foi casada por cinco anos, Claudio seu maridamor - como ela o chamava - morreu,
de repente, num acidente de carro. Já se passaram três anos e Suzana sente a
sua falta, na mesma intensidade de sempre.
Enquanto caminha, lembra, chora, ri, agradece, revolta-se,
chora, ri do que viveu, e hoje, pela primeira vez, ri de si mesma; num misto de
espanto e alegria, interrompe a caminhada no calçadão e vai até a beira da
praia.
Resolve molhar seus pés, mas não sem antes se lembrar da
poluição da Baía de Guanabara.
Caminha, bem lentamente, sentindo a água fria; olha pro Rio,
pensa no Claudio, olha pros prédios, olha pro MAC, pensa numa reunião
importante que terá amanha, olha pro mar escuro e vê brilhando uma garrafa
boiando, mas uma vez lembra da poluição mas decide entra no mar, água pela
cintura, e pega a garrafa.
Feliz como Suzana-Menina que ouvia estórias de garrafas
contatas pelo seu avo paterno.
Abre a garrafa. E lê a mensagem:
“Estou a procura de
um amor que ame a natureza e deteste o trânsito das grandes cidades. Que esse
amor queira viver comigo numa ilha deserta, para o resto de sua vida fazendo
amor e tomando água de coco.
Favor mandar a
resposta pela garrafa para: solitário da ilha”
Decepciona-se com o que lê, logo ela uma mulher urbana, que
ama Nova York, não suporta insetos - tem na sua mesinha de cabeceira um frasco
de SPB Citronela - ama gente, festas e uma roda de samba.
Pega a mensagem, coloca de volta na garrafa e joga no mar, bem
longe.
Pensa em Claudio com uma alegria imensa, a mesma alegria de
quando estavam numa roda de samba.
Volta pra casa e resolve aceitar o convite que seu vizinho
Paulo a fez - pela manhã quando ela saía para ao trabalho - para irem sambar na
Lapa.
Sergio Moreira.
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