terça-feira, 22 de maio de 2012

Texto de Shakti Leal produzido na oficina literária no CCJF

Oficina Literária – 18/5/2012 – CCJF – Centro Cultural da Justiça Federal
Shakti Leal


Acordei bem cedo naquela segunda-feira fria e chuvosa. Na verdade  não acordei, desisti de tentar dormir depois de ter lido teu e-mail. Fiquei em suspensão com o distanciamento sacramentado. Agora era oficial: você escolheu se afastar de mim. Não éramos mais melhores amigas, não choraríamos nem riríamos mais das coisas interessantes da vida.

Não sei se para você foi assim, derrepente esta decisão. Fiquei perdida em pensamentos,  confusa com as inúmeras possibilidades que nos trouxe até aqui. Em que momento o fio se rompeu? Em que momento, em que exato momento, a solidez da amizade virou água?

Fui à praia. No Arpoador. Como sempre íamos e nos divertíamos fazendo poses, inventando personagens, contando histórias, encontrando gente, sereinado no mar. É, lembrei que sereiávamos. Sereiar era muito bom!

Mas naquele dia a praia era fria, o mar era bravo, o céu era cinza, a areia era dura e a chuva caia. Caia impiedosamente sobre minha cabeça, embaçando meu olhar, mente e coração. Queria achar o que sentia. Imagens mentais se remexiam tão freneticamente que não conseguia achar o que sentia. 

Foi quando uma garrafa, expulsa pela ferocidade do mar, chutou meus pés e quase cai. Maldita garrafa! Peguei-a com raiva. Uma raiva que não era por ela. Era raiva de tudo. 

Num gesto firme e duro quis arremessá-la de volta ao mar (acho que era isso que queria fazer comigo mesma) mas não o fiz. Vi dentro dela uma mensagem e a curiosidade me paralisou. Sentada na areia, abri aquela garrafa e li a mensagem de sete linhas:

"Se fosse um inimigo... lutaria
Se fosse um desconhecido... ignoraria
Se fosse novo... ensinaria
Se fosse rebelde... o acalmaria
Se fosse qualquer outro... aguentaria
Mas você, meu amigo... dói... dói mais que tudo
Só me resta, então, sofrer... sofrer... e crescer" *

Só as duas últimas registrei. Todo meu eu registrou.
Senti meus olhos escorredo água salgada com gosto de ferro. Minhas lágrimas pareciam de sangue e transbordavam dor.
Dor. Era dor o sentimento que ficou no lugar da amizade que se foi.



* Mensagem da garrafa escrita por Andreia, na própria oficina literária coordenada por Maria Emilia Algebaile.

Um comentário:

  1. Muito bom esse texto! Fico muito feliz que essa parceria já esteja rendendo frutos. Bjs...

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